Calçada do Lavra

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Manuel Lopes de Lavre. Tesoureiro da Rainha D. Maria Francisca Isabel de Saboia. Secretário do Conselho Ultramarino

Neto de André Fernandes Lubeira, alfaiate na Freguesia de Santo Aleixo (Montemor-o-Novo), que se mudou e estabeleceu na aldeia de Lavre com a sua mulher e filho, Diogo Fernandes Lubeira. Os Lavres, Lopes ou Lubeiras são uma família natural do Alentejo.
Manuel Lopes nasceu do casamento de Diogo e de Catarina Pegas, tendo a designação da vila sido incorporada no seu nome: Manuel Lopes de Lavre.

Iniciou a sua vida enquanto mercador de gado, tendo-se mudado para o Campo dos Mártires da Pátria em Lisboa, onde casou com Maria Francisca, filha de um talhante, que se dedicava à comercialização de tripas, quer para consumo alimentar, quer para secagem no âmbito da produção de cordas para viola.

Ascendeu rapidamente a nível económico e social, tendo adquirido algumas casas nobres na Rua Direita de São José em 1672 ao 2.º Conde da Ponte, as quais, através de instituição de morgado por escritura em 14 de Junho de 1683, as perpetuou pelos seus descendentes.
Foi proprietário do ofício de Secretário do Conselho Ultramarino. Criado em 1642 no início da Dinastia dos Braganças, este conselho era orientado para a discussão e para elaboração da política imperial portuguesa. Tinha como objectivo centralizar as matérias e os negócios das conquistas, tendo a sua primeira reunião oficial ocorrido no dia 3 de Dezembro de 1643.

Entre as funções do secretário do Conselho Ultramarino, destacavam-se as criação de listas, elaboração de despachos para que a Torre de Belém permitisse a saída de navios, gestão dos assuntos relacionados com a armada do Rio de Janeiro, pagamento de contratos, recebimento de documentação associada a serviços, e.o. Reportava directamente ao Conselho de Estado e à Secretaria de Estado.
Foi nomeado cavaleiro da Ordem de Cristo, deputado da Junta do Tabaco, irmão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, familiar do Santo Ofício e tesoureiro da Rainha D. Maria Francisca Isabel de Saboia, a quem adiantou várias vezes largas somas de dinheiro sem cobrança de juros, razão pela qual foi incluído no seu testamento. Na Corografia Portugeza e Descripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal, publicação de 1758, o seu autor, Padre António Carvalho da Costa descreve-o como “fidalgo da Casa del Rey D. Pedro o Segundo, que delle fazia muita estimação, Deputado da Junta do Tabaco e Tesoureiro da Casa da Rainha”

Neste contexto, em Junho de 1688 foi nomeado fidalgo da Casa Real por D. Pedro II a pedido da Rainha, como recompensa dos serviços prestados à Raínha na sua tesouraria.
A sua descendência ocupou o seu cargo de Secretário do Conselho Ultramarino durante aproximadamente um século. Teve três filhos. André Lopes de Lavre, que continuou essa posição por ser o mais velho (a confirmação régia ocorreu em 1696), Manuel Lopes de Lavre, a quem deixou todos os seus serviços e D. Luísa Maria Francisca, a quem deliberou que se dedicasse ao estado de religiosa num convento à sua escolha.

De entre todos os elementos que compuseram a família Lavre, foram os varões a assumir a continuidade do estatuto e dos cargos oficiais régios até ao início do século XIX, designadamente o seu filho, André Lopes de Lavre, o seu neto, Manuel Caetano de Lavre e o seu bisneto, Joaquim Miguel Lopes de Lavre.
O palácio onde habitava a família – Palácio Lavra – ainda hoje existente na Rua de São José, alberga hoje em dia instalações dos CTT (Correios de Portugal, S.A.). Neste local existe ainda o Ascensor do Lavra, o mais antigo elevador público de Lisboa, cuja inauguração ocorreu no dia 19 de Abril de 1884. Classificado como Monumento Nacional, faz a ligação entre o *Largo da Anunciada e a *Rua Câmara Pestana, através deste arruamento.

Designado Calçada do Lavra, este arruamento, anteriormente nomeado Calçada de Damião Aguiar, inicia-se na Rua de São José e termina na Travessa do Forno do Torel.

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