Pátio do Bagatela

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Antigo Pátio do Monteiro

O espaço em que este pátio se insere constituiu uma quinta localizada num terreno outrora designado Sítio de Entremuros, onde existia um caminho que foi transformado em rua com as mais variadas designações toponímicas ao longo dos séculos: Rua de Entremuros (1768), Rua de Arciprestes e Entremuros (1778), Rua Direita dos Arciprestes (1796), Estrada de Entremuros de Campolide ou Rua da Estrada Antiga (1805), Rua de Entremuros, Rua de Silva Carvalho e finalmente Rua de Artilharia n.º 1 (1901).

Em 1766, esta quinta era conhecida por Casal do Tavares e posteriormente por Casal Novo e, finalmente, por Casal ou Quinta do Mineiro. Em 1938, o olisipógrafo Norberto de Araújo (1889-1952) descrevia-a como a maior propriedade daquele local, estendendo-se da *Rua das Amoreiras à *Travessa da Légua da Póvoa, ostentando um palacete datado de 1882 ladeado de estufas, jardins e alguns terrenos de cultivo.

Pertencia aos irmãos Manuel José Monteiro (1843-1937), um Comendador que havia retornado do Brasil (conhecido por “mineiro”) e Vicente Rodrigues Monteiro (1847-1936), notabilizado por cargos desempenhados como presidente da Câmara dos Deputados, Governador Civil de Lisboa, presidente da Junta da Casa de Bragança, presidente da Associação dos Advogados de Lisboa e primeiro bastonário da Ordem dos Advogados. De ambos existe registo de associação a trabalhos associados a Casas de Beneficência: Manuel José Monteiro foi presidente de um asilo na Quinta do Cardim ao Arco, dedicado a indivíduos adultos para o trabalho. Vicente Monteiro foi provedor do Asilo de Nossa Conceição (Largo do Rato), que albergava raparigas abandonadas entre os 7 e os 14 anos.

Em 1879, Manuel José Monteiro ordenou a construção de um edifício em altura no extremo da sua quinta, no espaço circunscrito entre a *Travessa da Fábrica dos Pentes, a *Travessa da Légua da Póvoa e a *Rua de Artilharia n.º 1. Era conhecido por Pátio do Monteiro, a que se juntaram as moradias humildes em banda do Pátio do Bagatella em 1890.

Consistem em vilas operárias de iniciativa privada, no âmbito de um debate levantado em torno das débeis condições de alojamento e de habitabilidade dos trabalhadores de classes mais baixas, que haviam deslocado para os principais centros industriais de Portugal na sequência das transformações operadas por *Fontes Pereira de Melo durante o período da Regeneração.

O forte aumento demográfico em cidades como Lisboa, Porto, Setúbal e Covilhã não foi acompanhado por uma intervenção capaz do Estado, tendo desencadeado a discussão em torno da ideia de casas baratas e salubres para os operários. Esta questão foi amplamente abordada pelo médico e higienista Ricardo Jorge (1858-1939), pelo conselheiro Augusto Fuschini (1843-1911, que levantou este tema no Parlamento), pelo jornalista e romancista José Valentim Fialho de Almeida, (1857-1911), e.o.

Foram inclusivamente levados a cabo dois importantes levantamentos por forma a compreender mais detalhadamente esta situação. O Inquérito Industrial de 1881 permitiu concluir que, em 72 indústrias, das 44 que responderam à rubrica sobre habitação, apenas nove afirmaram possuir alojamento para os seus trabalhadores. Foi também lançado pelo Conselho de Melhoramentos Sanitários o Inquério aos Pateos de Lisboa (1902 e 1905), aquando da presidência do engenheiro Augusto Montenegro.

Designada Villa Bagatella, este tipo de construção mais económico, capaz de providenciar um espaço salubre e habitável, surgiu como uma solução a aplicar esta delicada situação de grande impacte a nível social e de saúde pública. Enquadrada na tipologia de vilas que formam pátios, foi concebida para aproveitar o máximo de área disponível, aumentando o número de habitações na mesma parcela de terreno, rentabilizando assim o espaço e o investimento. Os fogos agrupam-se ao longo do perímetro do terreno, em forma de corredor, formando um pátio alongado na sua secção interna de onde se acedia às casas através de escadas construídas em ferro.

Em finais do século XX, esta área foi reconvertida em espaços de habitação, escritórios e comércio, respeitando a traça original das construções ali erigidas entre 1879 e 1890. Em 1997, o actualmente denominado Pátio do Bagatela, que contempla o edifício do Pátio do Monteiro e a Villa Bagatella, foi distinguido com os Prémios Valmor e Municipal de Arquitectura..

Bibliografia
Araújo, Norberto de (1939) Peregrinações em Lisboa. Livro XI. Lisboa: Parceria A.M. Pereira;
Pereira, Nuno Teotónio (1994). “Pátios e vilas de Lisboa, 1870-1930: a promoção privada do alojamento operário” in Análise Social, vol. XXIX (127). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais. Universidade de Lisboa;
Tomás, Ana Leonor (2012). Cidade oculta – a vila operária. CITAD. Primeira conferência em Filantropia e Arquitectura. Lisboa: Universidade Lusíada de Lisboa.

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