Rua Actor Tasso

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Joaquim José Tasso (n. Lisboa, 22 Ago. 1820; m. Lisboa, 27 Mai. 1870). Actor.

Orfão aos 5 anos, completou o ensino preparatório e cursou a escola de desenho e academia da marinha. Sentindo-se vocacionado para as lides teatrais, muitos foram os momentos em que substituía a assiduidade nas aulas pelas lições de declamação proferidas por Emílio Doux (actor que se estreou no teatro português a 14 de Janeiro de 1853 no Teatro da Rua dos Condes), a que assistia escondido.
A sua primeira incursão como actor teatral ocorreu no drama Jaquelina de Baviera em 1939 no *Teatro da Rua dos Condes. Na sequência da morte do actor Ventura, surgiu a sua oportunidade de interpretar papeis em lugares de maior destaque, designadamente nas peças Barba-Roxa e Sineiro de São Paulo, tendo conseguindo granjear do público um forte entusiasmo na pela A abadia de Viterbo no dia 26 de Agosto de 1841.
Deste modo, rapidamente conquistou o estatuto de galã, tornando-se numa referência de beleza e de vestir bem, ao ponto de se ter criado uma expressão popular “veste uma casaca como Tasso”.

No entanto, as suas competências interpretativas, à época consideradas de excelência, levaram a que fosse igualmente considerado como uma referência no que respeita aos géneros cómico e trágico, fazendo rir e declamando de forma profunda (foi muito referenciado pela sua exímia técnica de choro em palco), respectivamente.Referenciam-se também o frequente aluguer de camarotes e recurso a óculos de teatro por parte do público feminino nos espectáculos em que participava. Imbuído por este contexto de estrelato, nesta fase ainda considerada inicial, dedicava pouco estudo aos papeis que interpretava, muitas vezes improvisando em palco.

No dia 13 de Abril de 1846 assinalou-se a inauguração do Teatro Nacional D. Maria II, ocorrida durante as comemorações do 27.º aniversário da morte da rainha, mãe de *D. Pedro V (1837-1861). A sua criação decorreu de uma medida tomada por Passos Manuel (1801-1862) na sequência da Revolução de Setembro (9 de Setembro de 1836). Neste contexto, foi criada uma portaria régia que incumbiu Almeida Garrett (1799-1854) de criar um plano para a fundação e organização de um teatro nacional, que contribuísse para edificação do teatro português. Entre esta deliberação e a inauguração do teatro, construído no local onde se encontravam os escombros do Palácio dos Estáus, a instituição funcionou provisoriamente no Teatro da Rua dos Condes.

Assim, o empresário teatral Francisco Palha de Faria Lacerda (1824-1890), nomeado Comissário Régio, convidou Joaquim José Tasso para integrar a primeira companhia do novo Teatro Nacional, tendo-se aí estreado no drama histórico em cinco actos O magriço e os doze de Inglaterra no dia da sua inauguração. Segundo o empresário e jornalista António de Sousa Bastos (1844-1911), esta peça, escrita por Jacinto Heliodoro de Faria Aguiar de Loureiro (1806-1859?), foi pateada nas primeiras representações porque Tasso não havia decorado o seu papel. No entanto, ao longo da sua carreira neste espaço teatral, desenvolveu uma carreira considerada brilhante pela crítica.
Considerando que os ordenados auferidos pelos artistas não reflectiam o seu trabalho bem como o reconhecimento da sua carreira, visto que ao longo de trinta anos se mantinham congelados, levou a cabo uma greve de uma semana com o Teodorico Baptista Cruz (1818-1885) e João Anastácio Rosa (1812-1884), tendo alcançado sucesso neste empreendimento, obtendo um aumento salarial.

Quando Francisco Palha abdicou do seu cargo de comissário, convidou novamente Tasso para o acompanhar na criação da companhia que iria fundar o Teatro da Trindade, tendo actuado na sua estreia, no drama A mãe dos pobres no dia 30 de Novembro de 1867.
Diagnosticado com uma angina de peito, faleceu a doze dias da estreia do drama Marion Delorme no Teatro D. Maria II (1870), tendo o seu papel sido atribuído a Guilherme da Silveira (1846-), que viria a ter um forte contributo na construção do Teatro Apolo (Rio de Janeiro, 1890) e do Teatro S. Luiz (inicialmente designado Teatro D. Amélia em 1894 e substituído por Teatro da República em 1910).
A sua morte consternou a população portuguesa ocasionando um estado de luto nacional que levou a que os teatros fechassem as portas. Em sua homenagem, o seu nome foi atribuído a um teatro construído na Sertã no ano de 1915.

Designado Rua Actor Tasso, este arruamento inicia-se no Largo do Andaluz, terminando por Deliberação Camarária de 29 de Novembro de 1906 e respectivo Edital do Governo Civil de 11 de Dezembro do mesmo ano.

Espectáculos em que participou:

Jaqueline da Baviera (drama, 1839); Proezas de Richelieu (comédia, 1841); O aflageme de Santarém (drama, 1841); A abadia de Viterbo (drama, 1841); A pobre das ruínas (drama, 1845); O tribudo das cem donzelas (drama, 1845); O magriço (drama, 1846); Latude, ou trinta e cinco anos de cativeiro (drama, 1847); O hábito não faz o monge (comédia, 1847); Os dois seminaristas (comédia, 1847); Os mistérios de Paris (drama, 1849), O templo de Salomão (drama, 1849); O herdeiro do Czar (drama, 1850); O duende (comédia, 1850); O operário (drama, 1851); Se Deus quiser (1851); A profecia (drama, 1852); Anjo e demónio (drama, 1853); Raphael (drama, 1853); Maria Stuard (drama, 1853); Odio de raça (drama, 1854); O homem de ouro (drama, 1854); A honra de uma família (drama, 1854); A dama das camélias (comédia-drama, 1854); A consciência (drama, 1855); A consciência (drama, 1855); As mulheres de mármore (drama, 1855), O cão e o gato (comedia, 1855); Dalila (drama, 1855); Adriana Lecouvreur (comedia-drama, 1855); Um casamento e um despacho (comedia, 1856); Como se sobe ao poder (comédia, 1856); Mocidade de D. João V (comédia-drama, 1856); O cedro vermelho (drama, 1856); O caminho mais longo (drama, 1857); O anjo da reconciliação (comédia, 1857); A escala nacional (comédia-drama, 1857); Melodrama dos melodramas (comédia, 1857); As obras de Horácio (comédia, 1858); Livro negro (drama, 1858); Os homens sérios (comédia-drama, 1858); A caridade na sombra (drama, 1858); O cego (drama, 1858); César, ou João Fernandes (comédia, 1858); Flores e frutos (comédia, 1859); O luxo (comédia-drama, 1859); O médico das crianças (drama, 1859); Judith (tragédia, 1860); Dito e feito (comédia, 1860); Um ano em quinze minutos (comédia, 1861); A vingança (drama, 1862); Os homens do mar (comédia-drama, 1862); O jogo (drama, 1863); A sociedade elegante (comédia, 1863); A penitência (drama, 1863); Daniel Lambert (drama, 1863).

Bibliografia
Brito Aranha, Pedro Wenceslau de (1864). Glorificação do actor : a Joaquim José Tasso. Lisboa: Typographia do Futuro;
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (s.d.). Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia;
Jacques, Mário; Silva, Heitor (s.d.). Os actores na toponímia de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, pp. 153-155;
Machado, Júlio César (1862). “Joaquim José Tasso” in Revista contemporânea de Portugal e Brazil. Vol. IV (1862.1863) [n.º 11], pp. 541-560;
Melo, Ana Homem de (s.d.). Rua Actor Tasso. Gabinete de Estudos Olisiponenses.

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