Rua da Escola Politécnica

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A Escola Politécnica de Lisboa foi criada em 1837, por acção de Sá da Bandeira, ministro da Guerra de D. Maria II (1834-1853).

Tratava-se de uma Escola destinada à instrução militar onde se ensinaria Física e Matemática a nível universitário. Tal como explicita o decreto da sua criação (11 de Janeiro de 1837), a Escola tinha por objectivo formar alunos com os conhecimentos necessários para seguirem cursos das escolas do Exército ou da Marinha, dando-lhes instrução geral superior e a capacidade de exercerem outras profissões científicas. Assim se criava um instituto de ciências físicas e aplicadas destinado não só aos preparatórios dos engenheiros militares, engenheiros civis oficiais e construtores de marinha, oficiais de artilharia e Estado-maior, mas também a ministrar os conhecimentos auxiliares e indispensáveis ao estudo da medicina, da farmácia, do comércio, e o que mais importante é, da agricultura e da indústria.

Na prática, como se depreende, a nova instituição, criada pelo Ministério da Guerra (e não pelo do Reino, então chefiado por Passos Manuel) reunia duas Escolas, a Escola Politécnica e a Escola do Exército… Foi este o desfecho do impasse de dois anos, aberto na sequência da iniciativa do ministro Agostinho José Freire quando, em 1835, nomeou uma comissão destinada ao estudo da reforma do ensino público que, entre outros propósitos, visava a criação de estudos universitários em Lisboa e no Porto. O projecto, desagradando à Universidade de Coimbra, que mantinha a exclusividade do ensino superior, ficou, nesta fase, por concretizar. Rodrigo da Fonseca Magalhães, sucessor de José Freire, optou pela instituição do Conselho Superior de Instrução Pública (1835) e do Instituto de Ciências Físicas e Matemáticas (7 de Novembro de 1835) em Lisboa; instituição de existência efémera, cuja criação Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, substituindo Rodrigo da Fonseca, anulou em menos de um mês (2 de Dezembro de 1835)…
Foi então, já em 1837 e com Sá da Bandeira como Primeiro-ministro e Ministro interino da Guerra, que se criou a Escola Politécnica, instalando-a no edifício do Colégio dos Nobres, extinto poucos dias antes (4 de Janeiro).

Foi seu primeiro director o coronel de engenharia José Feliciano da Silva Costa. A Escola ministrava dez disciplinas (Álgebra, Geometria e Trigonometria; Cálculo Diferencial, Integral e das Probabilidades; Mecânica; Astronomia e Geodesia; Física; Química; Mineralogia e Geologia; Anatomia, Fisiologia e Zoologia; Botânica e Agricultura; e Economia Política), organizando cinco cursos para alunos, maiores de 14 anos, que se distinguiam entre ordinários e voluntários.

A Escola, herdeira do património do extinto Colégio dos Nobres, dispunha de Laboratórios de Física, de Química e de Ciências Naturais, sendo-lhe anexado o Jardim Botânico da Ajuda e o Observatório Astronómico da Marinha, inserido no edifício do antigo colégio pombalino.
Por meados de 1840, estava a Escola já em pleno funcionamento, quando o deputado por Lamego, José Manuel Botelho, sugeriu a reabilitação do Colégio dos Nobres, por extinção da Politécnica. Alexandre Herculano saiu a terreiro na defesa da escola nova, quer como relator do parecer sobre o projecto de lei proposto por José Botelho – que veio a ser chumbado na Câmara dos Deputados –, quer através da publicação do opúsculo Da Escola Politécnica e do Colégio dos Nobres, elogiando a escola que considerava ser a única representante do novo sistema de instrução pública de que resultaria a regeneração intelectual e moral do povo português.

Salvou-se a Politécnica. Do antigo Colégio dos Nobres restaria cada vez menos; em 22 de Abril de 1843 sobreveio um incêndio que destruiu completamente o edifício. Salvou-se tudo o mais, mas a Escola teve que passar a funcionar em instalações provisórias. Apesar da determinação imediata da reconstrução das instalações no mesmo local, só em 1857 foi aprovada a planta do novo edifício e foram ainda necessários vinte anos para a sua conclusão. Durante esse período de tempo, a Politécnica assegurou o ensino sem interrupções. Entrementes, a Escola do Exército passou a funcionar no Palácio da Bemposta; construiu-se o Observatório Meteorológico (mais tarde denominado do Infante D. Luís), e transferiu-se para a Politécnica o Museu de História Natural da Academia das Ciências.

Entretanto, por Lei de 7 de Junho de 1859, a Escola Politécnica deixou de pertencer ao Ministério da Guerra, passando a depender do Ministério do Reino, demorando ainda praticamente dez anos e um decreto específico (de 14 de Dezembro de 1869) para que o director e os mestres da Escola passassem a ser civis. Acompanhando o andar dos tempos, e o que estes foram trazendo em matéria de progresso do saber e das ciências, foram-se criando novas cadeiras, nomeadamente de Geometria Descritiva e de Química Orgânica, e reorganizado o programa de cursos, implementando-se alguns novos, como o de Engenheiros Hidrógrafos em 1862 e os de habilitação para o magistério secundário em 1902.

A implantação do regime republicano alterou profundamente a natureza e a organização do ensino superior, desde logo com a promulgação das Bases da Nova Constituição Universitária em 19 de Abril de 1911. As reformas aconteceram a um ritmo avassalador, reagindo à urgência que a necessidade da mudança conferia. A 23 de Março foram criadas as universidades de Lisboa e do Porto, pondo termo à exclusividade da Universidade de Coimbra; na mesma data instituiu-se um fundo universitário, em Lisboa, Porto e Coimbra, de bolsas ou pensões de estudo, destinado a subsidiar os estudantes de menores recursos.

A 12 de Abril procedeu-se à reforma do Instituto de Agronomia e Veterinária que passou a denominar-se Instituto Superior de Agronomia, formando engenheiros agrónomos e silvicultores; no mês seguinte, a 23 de Maio, foi criado o Instituto Superior Técnico procedendo à divisão do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa em duas escolas autónomas, o Instituto Superior do Comércio e o Instituto Superior Técnico e, dois dias mais tarde, foi extinto o curso de engenharia civil da Escola do Exército. Quanto à Politécnica, com a criação das novas Universidades, passou a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, cumprindo o Plano Geral de Estudos das Faculdades de Ciências publicado em 12 de Maio do mesmo ano de 1911.

Em 1937, por ocasião do primeiro centenário da Escola Politécnica de Lisboa, a Faculdade de Ciências empenhou-se na celebração do acontecimento, promovendo várias iniciativas, entre as quais pontua a publicação do primeiro número da Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa onde, precisamente, ficou escrita a memória dessas comemorações. Surge, justamente, o elogio da instituição que, afinal de contas, marcara a actividade científica e pedagógica do País dos últimos 100 anos. Aí se formaram milhares e milhares de estudantes (…) entre eles o Presidente da República e o ministro do Comércio e Indústria [Óscar Carmona e Pedro Teotónio Pereira, respectivamente].

Na Escola estudaram os que formam a maioria nos quadros do Exército e da Marinha de Guerra; nela se habilitaram também muitos dos
engenheiros que ocupam as situações de maior responsabilidade no desenvolvimento da riqueza pública. Frequentaram-na numerosos alunos que hoje são professores e no País promovem a educação nacional e por lá tiveram passagem, embora curta, quasi todos os médicos de Lisboa1. Fernanda Rollo

Bibliografia

Augusto-França, José (1994). A sétima colina: roteiro histórico e artístico. Lisboa: Livros Horizonte. p. 102.
Araújo, Norberto de (1992-1993) Peregrinações em Lisboa, XI volume, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa. p. 19.

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