Rua das Pretas

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Na obra Lisboa, Cidade Africana: percursos e Lugares de Memória da Presença Africana (séculos XV – XXI), os investigadores Isabel Castro Henriques (Centro de Estudos sobre África, Ásia e América Latina) e Pedro Pereira Leite (Centro de Estudos Sociais), este arruamento localiza-se num lugar que regista a memória dos africanos lisboetas.

Segundo *Julio de Castilho, no século XVI vendia-se água na rua, captada nos chafarizes. O crescimento urbano era de tal ordem que a água não chegava para o consumo da cidade. Tal como apontado por *Gustavo Matos Sequeira, “tanta era a afluência de negros e moiros e criados que as bulhas eram constantes. Entendeu bem a Câmara, e bem, publicar uma postura para regular a serventia das bicas (...)” a qual determinou que as “mulheres pretas” só podiam captar água nas quintas-feiras de cada semana. O Tratado da Majestade, Grandeza e Abastança da Cidade de Lisboa, escrito em 1552 por João Brandão, escudeiro da Casa Real de D. João III, elencou todos os locais onde a água poderia ser recolhida, designadamente chafarizes, poços e fontes lisboetas, numa tentativa de racionamento e eficiente distribuição da água.

Isabel de Castro Henriques e Pedro Pereira Leite referiram, justamente que no final do século XVIII o Chafariz de Sant’Anna, localizado onde actualmente se encontra o Campo dos Mártires da Pátria, “(...) atraiu muitas mulheres africanas, que desempenharam, durante séculos essa tarefa indispensável à vida urbana [recolha e distribuição de água]”. Os investigadores concluíram ainda na sua obra que a “Rua das Pretas ali ao lado regista essa presença secular, já que o lugar nunca deixou de ser utilizado como espaço de trocas e de negócios, e também de festas, as africanas forras usando as suas casas como estalagens para os muitos forasteiros que por ali circulavam”.

Designado Rua das Pretas desde pelo menos 1567 nas memórias paroquiais pós-Terramoto, este arruamento tem início na Rua de São José e termina na Avenida da Liberdade.


Bibliografia

Castilho, Júlio de (1904). Lisboa Antiga. Lisboa: Antiga Casa Bertrand;
Henriques, Isabel de Castro; Leite, Pedro Pereira (2013). Lisboa, cidade africana: percursos e Lugares de Memória da Presença Africana (séculos XV – XXI). Lisboa/Ilha de Moçambique: Marca d’Água: Publicações e Projectos;
Sequeira, Gustavo Matos de (1933). Depois do Terremoto. Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade, vol. IV.

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