Rua de Andaluz

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Quinta de Andaluz. Terreno.
 
Segundo Frei Lucas de Santa Catarina (1660-1740), neste local existia uma quinta pertencente a D. Álvaro de Castro, localizada junto de uma estrada próxima do Mosteiro de Santa Marta e do Lugar de Nossa Senhora da Luz. Segundo este membro fundador da Real Academia de História (fundada em 8 de Dezembro de 1720 por Decreto de *D. João V), decorrerá deste facto a origem etimológica da palavra “Andaluz”: local de passagem para o Lugar de Nossa Senhora da Luz.
Nesta quinta de traça apalaçada, conhecida por Quinta de Andaluz, encontrava-se o Chafariz de Andaluz, um dos mais antigos de Lisboa. No padrão que ostenta pode ler-se:
“Era, 1374. O Concelho da Cidade de Lisboa mandou fazer esta fonte a serviço de Deus e do nosso senhor Rei Dom Afonso por Gil Esteves, tesoureiro da dita cidade e Afonso Soares, escrivão. Deo Gratias.”

 Pertencendo ao círculo íntimo de D. Sebastião (1554-1578), que o integrou no Concelho de Estado e o nomeou Vedor da Fazenda, D. Álvaro de Castro terá morrido em 1577 no Algarve, um ano antes da Batalha de Alcácer-Quibir (4 de Agosto de 1578). Deixou em testamento as casas e a Quinta de Andaluz ao seu sobrinho, D. Leonardo de Castro e que, caso não existissem descendentes em linha recta, seria herdeiro o Convento de Benfica, da Ordem de São Domingos. Sob a condição de ser edificada uma igreja dedicada à princesa Santa Joana (1452-1490), bem como um novo mosteiro de frades dessa ordem nos terrenos.

Não existindo sucessão com a morte do último detentor da herança, D. João de Castro Teles em 1697, o Prior Provincial Padre Mestre frei José Galrão tentou fazer cumprir a vontade do testamentário. No entanto, a falta de fundos e o facto de o local privilegiado em que se situava a Quinta de Andaluz ter gerado especulação imobiliária, levou a que Galrão apresentasse uma proposta a D. Pedro II no sentido da edificação de um templo dedicado a Santa Joana, à qual o rei era devoto.
Deste modo, e por Alvará Régio de 20 de Setembro de 1698, foi criada a licença para a construção do convento, e o Arcebispo Cardeal Sousa, por provisão de 3 de Julho de 1699 permitiu o início dos trabalhos, tendo a primeira pedra sido lançada no dia 25 de Novembro desse ano, dia de Santa Catarina, protectora da Ordem, pelas mãos de D. Frei Pedro Fóios, bispo de Bona.

Projectada pelo arquitecto João Antunes e executada por José Pereira, a igreja ficou concluída em 1706, tendo o noviciado de missionários iniciado a sua actividade em 1708.
Tendo o terramoto de 1 de Novembro de 1755 criado poucos danos a este convento, os frades foram transferidos para outro convento no sentido de albergar as freiras cujos mosteiros tivessem sido destruídos ou que não dispusessem de rendimentos para manter a sua independência.

Deste modo, por Breve do papa Bento XIV, de 23 de Agosto de 1756, e com a aprovação de D. José I (1714-1777), as Religiosas da *Anunciada (para as quais o rei mandou erigir um mosteiro na quinta) e as Religiosas Dominicanas do Convento de Nossa Senhora da Rosa (ou do *Rosário) foram incorporadas nos espaços da igreja e do mosteiro de Santa Joana.
Toda esta zona era conhecida por Bairro de Andaluz, tal como é verificável na Lei de 20 de Agosto de 1654, na qual se determinava que ao corregedor deste bairro competia conhecer dos feitos ocorridos nas freguesias de São José, de Nossa Senhora da Pena e de São Sebastião da Pedreira.

Designado Rua de Andaluz, este arruamento inicia-se na Rua Ferreira Lapa e termina no Largo das Palmeiras, por Deliberação Camarária de 18 de Maio de 1889 e respectivo Edital do Governo Civil de 8 de Junho do mesmo ano.
Bibliografia

Baião, Padre José Pereira (1837). Portugal cuidadoso e lastimado com a vida, e perda do Senhor Rey Dom Sebastião, o desejado de saudosa memoria. Lisboa: Lisboa Occidental;
López-Salazar Codes, Ana Isabel (2011). Inquisición y política. El gobierno del Santo Oficio en el Portugal de los Austrias (1778-1653). Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa, Universidade Católica Portuguesa, p.73;
Pereira, Gabriel (1909). “A egreja e o mosteiro de Santa Joana”. In Boletim da Real Associação de Architectos Civis e Archeologos Portugueses. Separata do tomo 11, n.º 10. Lisboa: Tipografia da Casa da Moeda;
Sequeira, Gustavo Matos (1933). Depois do terramoto. Subsídios para a História dos bairros ocidentais de Lisboa. Vol. IV. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.

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