Rua Júlio César Machado

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Júlio César da Costa Machado
 
Filho de Luís Maria Cesário da Costa Machado e de Maria Inácia Machado. Nascido no terceiro andar do número dois da Travessa da Moreira em Lisboa, viveu desde três anos em Durruivos (actualmente A-dos-Ruivos, concelho do Bombarral), localidade de origem da sua mãe, tendo retornado à cidade onde nasceu na qual frequentou o liceu.
Com apenas dez anos já frequentava as lides teatrais na companhia do seu pai, tendo travado conhecimento desde então com proeminentes figuras da sociedade literária portuguesa. O Teatro do Ginásio e o Teatro de São Carlos constituíram locais com que se familiarizou desde cedo. O arruamento em que habitava era próximo do Teatro do Salitre, espaço que frequentava com regularidade.
O ano de 1849 assinalou a sua primeira incursão na escrita: com apenas catorze anos publicou os seus primeiros poemas no periódico A assembleia literária, denominados O mar e A cura, bem como foi levada à cena a sua primeira comédia em 1 acto no Teatro do Salitre, designada Umas calças de lista, no dia 30 de Dezembro desse ano.

Na sequência do falecimento do seu pai em 1852, manteve-se em Lisboa com a sua mãe, procurando investir na sua carreira literária em busca de rendimentos, visto herdado e assumido as hipotecas da família. E foi justamente neste ano que, com dezasseis anos publicou o seu primeiro conto, Cláudio impresso pelo tipógrafo João de Almeida.
Graças ao sucesso desta edição, o seu nome começou a circular pelo mundo artístico e literário lisboeta, até que o actor e ensaiador Romão António Martins o encarregou de traduzir peças para serem representadas no Teatro do Ginásio, comprovado que estava o seu conhecimento da língua francesa. Neste contexto, travou e consolidou contactos com os artistas e intelectuais que trabalhavam e frequentavam este teatro, integrando-se e assegurando o seu sustento.

Em 1853, a sua primeira obra publicada, a comédia Os três sapadores, foi levada à cena no Teatro do Ginásio. Um ano depois, deu os seus primeiros passos na crítica teatral em 1854. Nas suas análises abordava também a literatura dramática e sua ligação com o seu efeito em cena, e o modo como esse texto foi transposto para o palco, pesquisando os autores originais e os tradutores. No final da década de 1850 assumiu o cargo de vice-secretário do Teatro do Salitre, dirigido por Henrique Mouchett.
A publicação da obra em dois volumes A vida em Lisboa (1858) garantiu-lhe a notoriedade para ser contratado pelo periódico A Revolução de Setembro (fundado em 22 de Junho de 1840, findo em 20 de Janeiro de 1901), sucedendo a António Pedro Lopes de Mendonça (1826-1865) no lugar de folhetinista principal em 1859. Coube-lhe a redacção de crónicas semanais que assegurassem o interesse público, tendo produzido mais de cinco centenas de folhetins maioritariamente centrados nas artes teatrais, entre 1860 e 1886. Entre as várias temáticas, dava particular ênfase ao Teatro de São Carlos e ao Teatro D. Maria II.

Tendo alcançado algum conforto financeiro, viajou pela Europa, de que resultaram as obras Recordações de Paris e Londres (1863), Em Espanha (1865) e Do Chiado a Veneza (1867). Porém, a instabilidade inerente à carreira literária impeliu-o a requerer a intervenção de José Andrade Corvo (1824-1890) junto do Ministro das Obras Públicas, João Crisóstomo de Abreu e Sousa (1811-1895), no sentido de lhe assegurar o cargo de Secretário no Instituto Industrial de Lisboa, posição que ocupou até ao seu falecimento.
Em 1865 iniciou a sua colaboração no Diário de Notícias (fundado em 29 de Dezembro de 1864, ainda hoje activo), periódico para o qual produzia folhetins sobre questões militares, crónicas quotidianas, romance, temáticas alusivas à região do Oeste (sobretudo Caldas da Rainha) e, no que às artes respeitava, adereçava-se ao teatro ligeiro, retratando também actores, dramaturgos, empresários, e.o. intervenientes entretanto já desaparecidos do panorama artístico. Escreveu também para outras publicações como A lei (1852-53), A gazeta (1869-70) e Jornal do Comércio (1880-1886).
Entre 1860 e 1861, assinando sob o pseudónimo Carolina, nos periódicos O rei e a ordem e A política liberal, debruçou-se sobre várias temáticas sobre e na perspectiva da Mulher, designadamente a defesa dos seus direitos.

No segmento do teatro ligeiro, escreveu sobre espectáculos levados à cena no Teatro do Ginásio (por estar vinculado a um dos mais aclamados actores do tempo, Francisco Alves da Silva Taborda), no Teatro de D. Fernando, no Teatro da Trindade, no Teatro do Príncipe Real, no Teatro da Rua dos Condes, no Teatro do Salitre, no Teatro da Avenida, e no o Coliseu dos Recreios.
Em 1871 nasceu o seu filho, Júlio Costa Machado, fruto do seu casamento com Maria das Dores Machado. Dois anos depois, foi ordenado Cavaleiro da Ordem da Rosa do Brasil e eleito sócio correspondente do Instituto de Coimbra.
Foi um dos sócios-fundadores da Associação de Jornalistas e Escritores Portugueses, criada em Abril de 1880, aquando das comemorações do terceiro centenário da morte do poeta Luís Vaz de Camões (1524-1580), assinalando os primeiros passos do jornalista enquanto categoria profissional distinga de esferas mais largas como a literatura ou a política.

No dia 13 de Novembro de 1889, o seu filho cometeu o suicídio num trem de praça que requisitou no Rossio, com disparo de um tiro na cabeça. Sepultado no cemitério do Alto de São João no dia 16 desse mês, este evento foi surtiu um forte impacte na sociedade lisboeta, tendo desferido um duríssimo golpe em Júlio César Machado e sua mulher, que se isolaram da sociedade desde então.
Após uma tentativa de suicídio falhada por enforcamento, no dia 12 de Janeiro de 1890, o escritor e a sua mulher golpearam os pulsos na sua residência. Foram encontrados prostrados no chão envergando uma indumentária formal com um retrato do filho retirado da parede e colocado sobre a mesa. A criada de longa data, Sra. Maria José havia sido incumbida de se deslocar à Rua do Ouro para adquirir o periódico Le Fígaro, por forma a garantir a privacidade desta acção premeditada.

Maria das Dores não foi no entanto bem sucedida, tendo sobrevivido e ficado paralisada do braço esquerdo.
Cronista de costumes, retratou a vida quotidiana de Lisboa do seu tempo através dos intervenientes do circuito teatral, analisando desde a concepção à execução em palco, tal como o impacte da sua produção nos públicos, espelhando tendências, modas e hábitos de modo transversal entre classes sociais.
Os seus folhetins foram alvo de um desenvolvido estudo e pesquisa, concretizados na Dissertação de Mestrado de Licínia Rodrigues Ferreira pelo Centro de Estudos de Teatro, sob orientação do Professor Doutor José Camões do (Universidade de Lisboa) em 2011.

Designado Rua Júlio César Machado em sua homenagem, por neste local ter residido e falecido, este arruamento, anteriormente denominado por Travessa do Moreira, inicia-se na Rua do Salitre e termina na Avenida da Liberdade por Deliberação Camarária de 4 de Agosto de 1904 e respectivo Edital do Governo Civil de 27 de Agosto do mesmo ano.

Obras

Espectáculos:
Os três sapadores, (comédia imitação, Teatro do Ginásio, 1853); Amigos... amigos... (provérbio em 1 acto, Sociedade Taliense, 1853); As literatas ou A reforma das saias (adaptação do francês, Teatro da Rua dos Condes, 1857); Amor às cegas (comédia em 1 acto, Teatro D. Maria II, 1863); Para as eleições (entreacto, Teatro da Trindade, 1868);

Literatura:
Cláudio (romance, 1852); A Vida em Lisboa vols. 1 e 2 (romance, 1858); Contos ao Luar (contos, 1861); Passeios e phantasias (contos/livro de viagens, 1862); Cenas da Minha Terra (contos/guia turístico, 1862); Manhãs e noites (colectânea em livro de folhetins do autor, 1873); Álbum de caricaturas: Phrases e anexins da lingua portuguesa (colectânea de provérbios, 1876, com Rafael Bordalo Pinheiro); Mil e uma histórias (1888).

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