Rua de Júlio de Andrade

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Filho de António José de Andrade, um dos directores da Companhia Nacional de Tabacos (resultante da fusão da Companhia do Tabaco e Sabão da Boa Vista e da Companhia da Fábrica de Tabacos de Xabregas em meados dos anos 1860s) e fundador do Banco Industrial do Porto (1874).
Irmão de Alfredo César Reis Freire de Andrade (1839-1915), pintor e arquitecto português envolvido no Projecto de alargamento do Terreiro do Paço (1857) e no restauro de inúmeros monumentos em Itália.
Habitava, desde 1891 num edificado contíguo ao palacete da sua irmã, D. Guilhermina de Andrade Bastos, construído num lote criado pela urbanização do sítio do Torel, no seguimento do incêndio que em 1875 havia destruído o palácio do *Duque de Loulé nesse mesmo local, arruamento actualmente com o seu nome, onde viria a falecer.
 
Seguindo o percurso do seu pai, foi director do Banco de Portugal (fundado a 19 Nov. 1846) e do Banco Lisboa & Açores (fundado a 22 Mar. 1875), tendo-se no entanto destacado pelos seus actos de benemerência.
Compelido desde jovem pela defesa dos direitos dos animais, filiou-se na Sociedade Protectora dos Animais um mês depois da sua fundação (23 de Novembro de 1875). No dia 22 de Julho de 1877, foi eleito vogal da sua direcção até 1879. Entre 1880 e 1886, desempenhou o cargo de tesoureiro. No dia 25 de Julho de desse ano assumiu a presidência da direcção, substituindo o Visconde de Soares (Franco Francisco Soares Franco, 1810-1885), função que desempenhou durante dezoito anos.

Neste âmbito, assumiu pessoalmente o financiamento da impressão de mais de 16000 cópias de opúsculos sobre a protecção e os bons tratos dos animais, de que se destacam Guia do cocheiro e carreiro; Para as creanças; As touradas; Os burros; Os pássaros; Benevolência para com animaes; e.o., com vista à sua distribuição através da Sociedade Protectora dos Animais.
Importou ideias absorvidas de viagens que fez ao estrangeiro no que respeita à implementação de técnicas para melhoria das condições de trabalho dos animais, designadamente no que respeita à diminuição e suavização de ferraduras, freios, vasilhas para beberem nos espaços em que são estacionados.
Destaque-se a promoção da máscara de Bruneau, um utensílio criado por um talhante zoólfilo francês durante o século XIX, que cobria os olhos dos animais e um espigão apontado para zona posterior da cabeça, o qual penetrava o crânio por via de uma pancada seca e rápida de um martelo, permitindo um abate mais rápido e menos penoso para o animal. Este acessório foi adoptado pelo Ministério da Guerra francês, e utilizado nas principais cidades francesas, alemãs e belgas.

Foi responsável pela construção de marcos fontanários (ou fontenários) por si concebidos por via da intermediação da Sociedade Protectora dos Animais. A sua estrutura, em ferro, caracterizava-se por duas taças, uma superior para os cavalos e outra inferior para os cães e os gatos. Dispunha ainda de uma torneira para a utilização das pessoas. O primeiro exemplar foi inaugurado no Largo do Corpo Santo em 15 de Agosto de 1882 (local onde também edificou um abrigo para os animais). Actualmente ainda é possível encontrar um destes exemplares no ângulo sudoeste do Rossio, bem como na cidade do Porto, no Parque de Nova Sintra (actual sede Empresa Municipal Águas do Porto), onde se pode ler numa tabuleta a inscrição:
“Não nos cancemos de fazer o bem. O homem é o rei dos animaes mas não deve ser o seu tyranno. Sociedade Protectora dos Animaes. Fundada no Porto em 1878. Doado à sociedade por Júlio D’Andrade”.

Este marco fontanário do Porto apresenta uma particularidade: para além dos doze exemplares que ofereceu ao Município de Lisboa, mandou construir mais dois, um para Xabregas e outro para Campo de Ourique. No entanto, quatro anos depois, a Câmara Municipal não os ligou à rede de água durante quatro anos, alegando não ter ter condições e por isso deles prescindindo. Face a esta situação, ofereceu-os à Sociedade Protectora dos Animais do Porto, o que se referiu acima, um desses exemplares.
Entre outras acções desta natureza, distribuiu pelos comerciantes da cidade de Lisboa – caso estes o desejassem – baldes de madeira que cumpriam a função de bebedouros para os animais e doou um carro à Câmara Municipal de Lisboa, por via da Sociedade Protectora dos Animais, destinado à recolha de animais de rua em dificuldades.

O seu espectro filantrópico abrangeu ainda a sensibilização das massas para temáticas centradas no civismo, higiene, saúde pública e bem-estar. Foi da sua responsabilidade a tradução e impressão de mais de 49000 cópias no total de obras como Physiologia e Hygiene; Economia domestica; Sê honrados; O dever; Advertências às mulheres casadas; Advertências às mães; Doenças infecciosas e maneira de as evitar; Maneira de ter uma casa saudável; Educação Physica; O que há a fazer em caso de acidente; A alimentação; A alimentação do povo; Effeitos do tabaco sobre a alma; e.o. Todos estes exemplares foram distribuídos gratuitamente em escolas e em casas de família.

O topónimo foi proposto por *Anselmo Braamcamp Freire, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sessão de 27 de Abril de 1910, na qual informou que Júlio de Andrade havia ofertado ao Arquivo Municipal as obras acima referidas, solicitando que as mesmas fossem divulgadas junto da população escolar.

Designado Rua Júlio de Andrade por Deliberação Camarária de 27 de Abril de 1910 e respectivo Edital do Governo Civil de 12 de Maio do mesmo ano, este arruamento tem início na Travessa da Cruz do Torel e termina em Campo dos Mártires da Pátria.


Bibliografia

Faria, Miguel Figueira de; Mendes, José Amado (coord.) (2013). Dicionário da História Empresarial Portuguesa – Séculos XIX e XX. Vol. I – Instituições Bancárias. Lisboa: Imprensa Nacionacio – Casa da Moeda, S.A.
Le Roux, Hugues (1890). Aux abattoirs in Monde Illustré, No 1718.
n.a. (1906) Júlio de Andrade in Brasil-Portugal, A.8, V.8, No 181, p. 208.;
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Melo, Ana Homem de (s.d.). Rua Júlio de Andrade. Lisboa: Gabinete de Estudos Olisiponenses;
Mónica, Maria Filomena (1992). “Negócios e politica: os tabacos (1800-1890) in Análise Social, vol. XXVII (116-117) (2.º, 3.º), p. 469;
Velloso, Rodrigo (1901). A Sociedade Protectora dos Animaes e Júlio de Andrade in Ocidente, V.24, No 793, p. 3-4.

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