Rua Luciano Cordeiro

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Luís José Seixas Fernandes

De ascendência paterna portuguesa e materna brasileira (Maria Emília), herdou uma substancial fortuna na sequência do falecimento do seu pai. Em 1884 fixou-se em Lisboa, onde se formou no Instituto Industrial e Comercial.
No ano seguinte casou com Beatriz Léger-Lavrado tendo ordenado a construção de um palacete para sua residência na Travessa de São Marçal, edifício actualmente pertencente ao British Council (desde 1942) e incluído na Zona de Proteção no Aqueduto das Águas Livres e na Zona Especial de Proteção do Bairro Alto e imóveis classificados na área envolvente.

Em 1885, a sua mulher e filho morreram no parto, ocasionando a sua Partida para Paris, onde se dedicou ao coleccionismo de obras de arte, só regressando a Lisboa pontualmente, para depositar as suas aquisições no palacete.
Luciano Baptista Cordeiro de Sousa

Filho de Leopoldina Cândida Álvares Ferreira e de Luciano José Cordeiro de Sousa, notário na ilha do Funchal, que se havia mudado para Lisboa.
Aos dezoito anos assentou praça de aspirante a guarda-marinha, desistindo da carreira naval em 1868. Concluiu o curso Curso Superior de Letras em 1867, a par do estudo da língua alemã na Torre do Tombo.

Liberal assumido, foi discípulo do jornalista político *António Rodrigues Sampaio, que aquando da sua dedicação a cargos políticos, o convidou em 1869 para assumir a direcção do jornal Revolução de Setembro, que não viria a exercer durante muito tempo, mantendo-se no entanto enquanto redactor ao longo de vários anos. Enquanto jornalista, colaborou também com periódicos como O Paíz, A actualidade, O Jornal do Comércio, O Comércio do Porto, O Diário de Notícias, Diário Ilustrado, A Harpa, O Cenáculo, O espectro de Juvenal, e.o. Foi ainda director e proprietário do jornal O Comércio de Lisboa, criou com Ruy Portocarrero A voz académica e foi co-fundador com Rodrigo Afonso Pequito (1849-1931; membro do Partido Regenerador e mais tarde Secretário dos Negócios da Fazenda) da Revista de Portugal e Brazil.

Entre 1871 e 1874, por nomeação do Ministério da Guerra, leccionou Literatura e Filosofia no Real Colégio Militar, onde transcreveu toda a legislação de que até 1873 havia sido publicada nessa instituição, num opúsculo designado Plano de Estudos.
No dia 23 de Janeiro de 1873 obteve, juntamente com o seu irmão, o diplomata Francisco Cordeiro de Sousa, os direitos para a implementação de um sistema de transporte na cidade de Lisboa denominado Viação Vicinal e Urbana a Força Animal. Tinha como base a utilização “Americanos”, ou seja, carros que deslizavam sobre carris de ferro por uma parelha de cavalos ou muares. Antes da inauguração oficial da primeira linha, no dia 17 de Novembro desse ano, que se estendia entre a Estação da Linha Férrea do Norte e Leste (Santa Apolónia) e o extremo Oeste do Aterro da Boa Vista (Santos), os irmãos trespassaram o monopólio da exploração, com aprovação da Câmara Municipal de Lisboa, para a Empresa Carris de Ferro de Lisboa.

Em 1875 iniciou um movimento nacional e popular em defesa das possessões ultramarinas, de que resultou a fundação da Sociedade de Geografia de Lisboa, da qual foi o primeiro promotor e posteriormente Secretário Perpétuo.

Travou intensos combate pelo que considerava constituir o direitos legítimo de Portugal sobre o seu império colonial em África. Neste contexto, foi presidente da Exposição Portuguesa em 1879 no Rio de Janeiro e representou Portugal em inúmeros eventos internacionais, designadamente no no Congresso da Geografia Colonial em Paris (1879), Congresso Internacional de Ciências Geográficas em Veneza (1881), na Conferência de Berlim (em Outubro de 1884, com António Serpa Pimentel (1825-1900, Presidente do Conselho de Ministros e líder do Partido Regenerador), nos quais se destacou pelo intenso combate pelo que considerava ser os direitos legítimos de Portugal sobre o seu império colonial em África.

Foi justamente nesta última conferência que apresentou um relatório intitulado La question du Zaire, no qual se apelava aos direitos históricos de Portugal sobre o território africano, que acabou por ser ultrapassado pelo conceito de ocupação efectiva com forças suficientes, capazes de reprimir as revoltas dos nativos. Deste critério surgiu posteriormente, no dia 11 de Janeiro de 1890, o Ultimato Inglês, ao qual Portugal, face à sua posição de inferioridade, cedeu.
 Filiado no Partido Regenerador, foi deputado em duas legislaturas em 1882 e 1884 pelos círculos de Mogadouro e de Leiria, respectivamente, tendo estado envolvido em pastas como a Administração Pública, Polícia de Segurança e ocupado a posição de Director-Geral da Instrução Pública. Funcionário superior do Ministério do Reino, integrou uma comissão de estudos sobre a emigração portuguesa, colaborou na organização de museus, e.o. Foi também administrador da Companhia de Caminhos de Ferro da Zambézia.

Prolífico autor de uma extensa produção literária, poder-se-ão destacar obras como Na Sciencia dos pequeninos – carteira dum pai, na qual apresenta uma profunda crítica ao trabalho infantil e seu respectivo contraste com a ociosidade dos crianças de famílias abastadas. Esta publicação retornou-lhe uma medalha no Congresso da Sociedade Protectora da Infância realizado em Marselha. Escreveu também sobre inúmeras figuras da história da monarquia portuguesa, nomeadamente D. Joana de Mendonça, D. Leonor, D. Fernando, Afonso de Albuquerque, e.o. Dedicou-se igualmente ao aprofundamento da temática dos Descobrimentos.
Editou uma colecção de volumes resultantes de deslocações que fez ao estrangeiro entre 1874 e 1875, intitulados Viagens: Espanha e França e Viagens: França, Baviera, Áustria e Itália. Foi também crítico teatral e literário.

Em 1900, quando se preparava para participar no Congresso Colonial, com apenas 56 anos, sofreu um ataque de angina do peito que ocasionou o seu falecimento. O velório obedeceu a um percurso iniciado na sua residência, no Largo do Barão de Quintela até à Sociedade Portuguesa de Geografia, na *Rua das Portas de Santo Antão, onde permaneceu em câmara ardente na Sala Algarve.
O seu impacte na sociedade portuguesa cristalizou-se no dia do seu funeral, 25 de Dezembro de 1900, no qual, em torno de uma considerável presença dos cidadãos lisboetas, proferiram discursos o presidente da Sociedade Portuguesa de Geografia, Francisco Ferreira do Amaral (1844-1923), o médico, professor e cientista Francisco Xavier da Silva Teles (1860-1930), o escultor José Simões de Almeida (1844-1926), o agrónomo Francisco Simões Margiochi (1848-1904), e.o.

Designado Rua Luciano Cordeiro, este arruamento inicia-se na Alameda de Santo António dos Capuchos e termina no Largo das Palmeiras, por deliberação no Deliberação Camarária de 4 de Dezembro de 1902 e respectivo Edital do Governo Civil de 11 de Dezembro do mesmo ano.

Obras
Serões Manuelinos (1861-1892); Arte e Literatura Portuguesa de Hoje (1869); ⯑Ciência e Consciência (1872); Portugal e o Movimento Geográfico Moderno, Lisboa (1877); Questões Africanas. Representação ao Governo Português da Sociedade de Geografia (1880).

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