Rua Luís Fernandes

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Investiu no turismo e na hotelaria, tendo sido um dos primeiros sócios e vice-presidente da secção de Hoteis da Sociedade Propaganda de Portugal (também conhecida por Touring Club de Portugal), fundada em 28 de Fevereiro de 1906, e cujos fins, tal como publicados no Guia de Portugal (1924) eram consentâneos com a sua filosofia de vida:
“Organizar e divulgar o inventário de todos os monumentos, riquezas artísticas, curiosidades e lugares pitorescos do país; publicar  itinerários, guias e cartas roteiras de Portugal; organizar ou auxiliar excursões; promover a concorrência de estrangeiros, e uma maior circulação de nacionais dentro do território; dar as informações que lhe sejam solicitadas; fornecer a hotéis, casinos, estabelecimentos hidroterápicos, empresas de transportes, etc, plantas de instalações, tabelas de preços e lista de objectos de uso corrente  nos grandes centros de excursionismo; promover reformas e melhoramentos na instalação e regime de hotéis, transportes e serviços locais; e de uma maneira geral estudar todas as questões de interesse geral conexas com o fim da sociedade.”

No âmbito desta função, a Sociedade publicou em 1907 duas obras por si redigidas, dedicadas aos proprietários e empregados de hoteis, designadamente o Guia Prático dos Serviçais de Hotéis e Guia Prático dos Proprietários de Hotéis, tendo sido igualmente orador no Congresso de Turismo de Toulouse em 1911.
Neste mesmo ano, por um lado anuindo às demais solicitações da Sociedade Propaganda de Portugal, por outro pela mudança de paradigma ocasionado pela Implantação de República, foram instituídos um Conselho de Turismo e uma Repartição de Turismo pelo Decreto de 16 de Maio em Portugal, constituindo desse modo um dos primeiros países a proceder à institucionalização governamental do turismo, a par da Áustria e da França, prioneiras nesse campo.
Em 1908 elaborou o primeiro Curso de Hotelaria em Portugal na Casa Pia. Quatro anos depois, foi o primeiro Presidente do Grupo de Amigos do Museu de Arte Antiga, fundado em 27 de Abril de 1912, função que manteve até à sua morte.

Habitando em Paris, assumiu um importante papel na Biblioteca-Museu da Grande Guerra, criado a partir de doações dos industriais Henri e Louise Leblanc e definida  no Parlamento francês enquanto uma instituição de carácter histórico e científico. Este espólio, constituído por 22000 peças, demorou vinte e seis meses a organizar, sendo composto por periódicos, monografias, medalhas, pinturas, desenhos, selos de guerra, documentação, cartas postais, e.o.
Após a formalização desta instituição, Luís Fernandes doou uma vasta colecção que acumulou sobre material alusivo à Primeira Grande Guerra Mundial, designadamente periódicos portugueses, programas de festas, cartazes de espectáculos, monografias, cartas de soldados, e.o. Neste sentido, organizou a secção portuguesa, tendo sido por esse motivo convidado pelo director do Museu para integrar o Conselho de Administração em 1920.

Quatro dias após o seu falecimento, foi descerrado o seu testamento (10 de Fevereiro de 1922) na conservatória do Registo Civil da Rua Ferreira Borges, em Lisboa, estando presentes o político, banqueiro e administrador de empresas António Tarujo Formigal (1881-1847), o seu primo e fundador do Banco Guimarães,  Fortunato Jorge Guimarães Barateiro (1835-)e Rodrigo Peixoto. Tendo sido redigido no dia 18 de Dezembro de 1914, o seu espólio na Europa foi dividido entre o Brasil (Instituto Geográfico da Baía e Academia Nacional de Belas-Artes) e Portugal, destacando-se o Museu Nacional de Arte Antiga, ao qual legou a sua mais destacada peça de colecção: uma colecção de chávenas com vitrines e armários que as continham, bem como todas as suas peças de cerâmica. Neste último caso, a condição seria denominar a sala em que esta colecção viesse a ser exposta com o nome da sua mãe - Maria Emília.

Com efeito, a sala n.º 4 do Museu Nacional de Arte Antiga foi também efectivamente deseignada por  “Maria Emília”, a qual, segundo a documentação disponível desta instituição depositada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, poderá ser descrita como:
“Nesta apreciam-se, em grande número, os exemplares coleccionados por um dos “Amigos do Museu” o falecido brasileiro José Luís Fernandes, que foi presidente da “Sociedade de Propaganda de Portugal” e um dos mais importantes coleccionadores de cerâmica do país.
A sala de Maria Emília, nome que Fernandes lhe deu em homenagem a sua mãe, é um vasto repositório das melhores espécies, constituído por exemplares curiosíssimos, da maior raridade e do mais valioso preço.

A enorme colecção compõe-se de peças orientais e europeias, a partir do século XVIII.
Sobretudo em chávenas, há exemplares únicos como raridade e beleza. É louça de Paris, de Sévres e de outras fábricas francesas; de várias fábrias de Inglaterra e Alemanha, entre elas de Mogúncia. Ali se representam também a Companhia das Índicas, a China, o Japão, etc.
As tapeçarias de Beauvais (séc. XVIII) e as credências em estilo Regência, que se encontram nesta sala, são do fundo do Museu.”

Em sua memória, a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu o seu nome à rua onde se situa o seu palacete, inaugurando uma placa de onde se lia: “Benemérito do Turismo e dos Museus de Arte Nacionais / Organizador da Secção Portuguesa do Museu da Grande Guerra em Paris”.

Designado Rua Luís Fernandes, este arruamento inicia-se na Rua de São Marçal e termina na Rua Monte Oliveite, por Deliberação Camarária de 18 de Agosto de 1922 e respectivo Edital do Governo Civil de 6 de Fevereiro de 1923.

Bibliografia

Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga (1923) In memoriam Luís Fernandes. A. Lisboa: Imp. Libano da Silva;
Baião, Joana (2014) “O amigo brasileiro: Luís Fernandes (1859-1922)” in Colecções de Arte Portugal e Brasil. Lisboa: Caleidoscópio;
Cardoso de Matos, Ana; Bernardo, Maria Ana; Santos, Maria Luísa (2011). “A Sociedade Propaganda de Portugal e o Congresso de Turismo de 1911” in Congresso Internacional I República e Republicanismo: Acta., Lisboa: Assembleia da República – Coleção Parlamento, pp. 393-403
n.a. (1920). Museu Nacional de Arte Antiga in Ilustração Portuguesa, II Série, No 738, 12 de Abril de 1920
n.a. (1923). Homenagem de gratidão in Ilustração Portuguesa, II Série, No 929, 8 de Dezembro de 1920
Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Documento descritivo sobre a fundação e colecções do Museu Nacional de Arte Antiga
Bibliotheque de Documentation Internationale Contemporaine
Notas sobre a Biblioteca-Museu da Grande Guerra
Monumentos - Palacete do Menino de Ouro

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