Rua do Monte Olivete

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Monte Olivete

Esta designação remonta pelo menos ao século XIV, aquando da Crise de 1383-1385, também conhecida por Interregno. No seguimento do adoecimento do Rei D. Fernando I (1345-1383), a sucessão do trono foi colocada em causa, visto não existir um herdeiro masculino. A única filha, Infanta D. Beatriz de Portugal (1373-1412) casou em Maio de 1383 com João I de Castela (1358-1390), no âmbito do Tratado de Salvaterra de Magos (2 de Abril de 1838), que assinalou o final da terceira guerra fernandina com Castela e cujas clausulas garantiriam a independência de Portugal.

Com a morte de D. Fernando I no dia 22 Outubro de 1383, a Rainha Leonor Teles de Menezes assumiu a regência do trono, nomeando no entanto D. Beatriz como rainha, potenciando, a auto-proclamação de D. João I de Castela como Rei de Portugal. A ligação extra-conjugal de D. Leonor com o seu conselheiro castelhano, Conde João Fernandes Andeiro (c.1320-1383) tornava evidente ameaça da perda da independência de Portugal.

Neste contexto, apoiado pelo povo e por nobres independentistas, D. João I, Mestre de Aviz (1357-1433) assassinou o Conde Andeiro no dia 3 de Dezembro de 1383, tendo sido aclamado como Regedor e Defensor do reino no 16 desse mês.
Estes eventos desencadearam um novo conflito entre Portugal e Espanha no âmbito do qual, em Maio de 1384, o reino de Castela cercou Lisboa por terra e por mar, que estava a ser defendida por D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431).
E terá sido justamente no Monte Olivete que, segundo o cronista Fernão Lopes (c.1380-1460), se posicionaram os exércitos invasores:

“Em esto chegou el-rei de Castella com sua hoste, todos a cavalo e muitos peões e besteiros que houveram das galés, por avisar a cidade, e chegou acerca d’ella em um alto monte, que hora chamam Monte Oliveite, e esteve alli grão parte do dia, e muitos dos seus andam entonce cortando arvores e vinhas, e fazendo todo o damno que podiam”
 
A resolução final deste conflito deu-se na Batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), a qual elevou São Jorge a padroeiro de Portugal, em virtude da devoção de D. João I e de D. Nuno Álvares Pereira, a qual levou a que a imagem deste santo viesse a ser introduzida na Procissão do Corpo de Cristo, tal como descrito no texto sobre a *Travessa da Procissão.

O Monte Olivete constituía um local bucólico, dotado de olivais e vinhas onde, aquando de um surto de Peste Negra 1433 em Lisboa, e citando o cronista Rui de Pina (1440-1521), o Rei D. Duarte I (1391-1438) se refugiou:
“(...) e porque começaram a morrer de pestença em Lisboa, mandou El-Rei a Rainha sua mulher, e os Infantes seus filhos a Cintra, e elle foi a uma quinta, que se diz Monte Olivete, junto com Sancto Antão, onde esteve alguns dias (...)”

Esta quinta veio posteriormente a pertencer a Fernão Teles de Meneses (1530-1605) e a D. Maria de Noronha (c.1545-1623), onde foi erigido o Noviciado da Cotovia, temática desenvolvida nos textos sobre a *Travessa do Noronha e *Rua do Noronha.
No século XVIII, com a ascensão do *Marquês de Pombal ao poder e a consequente expulsão dos Jesuítas, o Noviciado da Cotovia foi convertido no *Real Colégio dos Nobres (1761), o qual posteriormente deu lugar à *Escola Politécnica (1837), na sequencia da Revolução de Setembro.

Designado Rua Monte Olivete, este arruamento inicia-se no Largo Agostinho da Silva, terminando na Rua da Escola Politénica.

Bibliografia

Lopes, Fernão (1897) Chronica D’El-Rei D. João I. Lisboa: Bibliotheca de Clássicos Portuguezes – Mello D’Azevedo;
Pina, Ruy de (1901) Chronica D’El-Rei D. Duarte. Lisboa: Bibliotheca de Clássicos Portuguezes – Mello D’Azevedo;
Sequeira, Gustavo de Matos (1916). Depois do terremoto. Subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa. Lisboa: Academia das Sciências de Lisboa.

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