Rua Seara Nova

Image

Revista de doutrina e crítica de acção política e social que partiu de uma ideia discutida em 1920 no gabinete do Director da Biblioteca Nacional, em que estiveram presentes Luís da Câmara Reis (1885-1961), Raúl Brandão (1867-1930), Raúl Proença (1884-1941), Aquilino Ribeiro (1885-1963), Ferreira Macedo e Jaime Cortesão (1884-1960). Em Maio de 1921, foi fundada a Empresa de Publicidade Seara Nova, designação criada por Aquilino Ribeiro e por Luís da Câmara Reis.

Para além deste último, os corpos dirigentes da empresa foram constituídos pelo Capitão Fernandes Duarte (entrou em 1923) e Jaime Cortesão na Direcção, Faria de Vasconcelos (1800-1939), António Tomás Conceição Silva (1869-1958) e Rodrigo Caeiro Vieira na Mesa na Assembleia Geral, e João de Araújo Morais, João Maria de Santiago Prezado (1883-1971) e José das Neves Leal no Conselho Fiscal.

O primeiro número deste periódico foi publicado no dia 15 de Outubro de 1921, lendo-se no seu editorial, bastante esclarecedor no que respeita às suas linhas orientadoras:
"Possam os homens de boas intenções de todas as Pátrias erguer um dia, sobre um mundo que ainda hoje se debate em miseráveis disputas nacionalistas, o arco-de-aliança duma humanidade justa e livre, realizando na paz vitoriosa as conquistas da inteligência e da vontade desinteressada!"

Declaradamente antifascista, defendeu o ideário progressista, o Espírito Seareiro, promoveu um espaço de debate ideológico e cultural contra o advento da Ditadura, que poucos anos depois viria a ser bruscamente institucionalizado. Para além da sua produção redactorial, organizava ciclos de conferências e colóquios e participava em actos políticos, dinâmicas estas desenvolvidas por grupos de intelectuais republicanos de esquerda, ou tal como por influência de António Sérgio (1883-1969) se afinou, por Republicanos de Tendência Socialista inspirados por um pensamento filosófico de teor racionalista-idealista crítico, que se demarcava do Bolchevismo, do Liberalismo Económico e do Jacobinismo Republicano Sectário. Desenvolveu também uma intensa actividade editorial, tendo criado um diversificado catálogo composto por poesia, ficção, história, política e divulgação.

António Reis, Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, contemplo cinco ciclos de existência desta revista, a que se poderá acrescentar um sexto:

1.º Ciclo (1921-1926): fundação e definição doutrinária. Resistência ao ideário Fascista;
2.º Ciclo (1926-1939): luta contra a Ditadura Militar;
3.º Ciclo (1939-1958): resistência Cívica. Período em que a revista atravessou fortes dificuldades financeiras;
4.º Ciclo (1958-1974): renovação doutrinária caracterizada pela abertura às doutrinas Marxistas e adopção de um novo estilo gráfico, propondo-se a “(...) desenvolver um amplo inquérito aos problemas actuais da gente portuguesa e proceder ao estudo e à articulação das soluções democráticas e socialistas ajustadas àqueles problemas.”. Em 1972, a revista apresentava uma periodicidade mensal, com uma tiragem de 26500 exemplares e 16373 assinantes, 70% dos quais com idade inferior a 34 anos.
5.º Ciclo (1974-1979): hegemonia da doutrina Comunista, que que se traduziu na desagregação do grupo e consequente diminuição dos seus assinantes. A maioria do Capital Social era detido por accionistas associados ao Partido Comunista Português. Assinalou o final da sua condição de Revista da Oposição Democrática.
6.º Ciclo (1985 até ao presente): nova Seara Nova. Espaço de convergência de todas as forças da Esquerda, cuidando de não criar cisões. Resistência contra o Neoliberalismo. Luta contra a perda da Soberania Nacional, designadamente através da oposição a acções de domínio estrangeiro que coloquem em causa a cultura, a segurança e a independência e o desenvolvimento económico do país. Aposta na cooperação com a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Colaboraram neste periódico os mais distintos intelectuais, a saber: Adolfo Casais Monteiro, Agostinho da Silva, Alberto Vilaça, Alexandre Cabral, Alves Redol, Armando Castro, Augusto Abelaira, Bento de Jesus Caraça, Blasco Hugo Fernandes, Fernando Lopes Graça, Fernando Namora, Francine Benoît, Francisco Pereira de Moura, Gago Coutinho, Gilberto Lindim Ramos, Hernani Cidade, Irene Lisboa, Rodrigues Miguéis, José Saramago, José Gomes Ferreira, Magalhães Godinho, Magalhães Vilhena, Manuel Mendes, Manuel Machado da Luz, Mário Azevedo Gomes, Mário Sacramento, Mário Sottomayor Cardia, Mário Ventura, Jorge Peixinho, Jorge de Sena, Rogério Fernandes, Rui Grácio, Sarmento de Beires, ou Vitorino Nemésio.
Actualmente a Seara Nova é detida pela Associação Intervenção Democrática,  que assegura a sua edição com uma periodicidade trimestral desde o Verão de 1985.

Designado Rua da Seara Nova pela Deliberação Camarária de 18 de Outubro de 2015 e respectivo Edital do Governo Civil de 15 de Novembro do mesmo ano, este arruamento inicia-se na Rua de Artilharia Um e termina na Travessa das Águas Livres.

Bibliografia

Reis, António (1996). “Seara Nova” in Rosas, Fernando; Brito, J. M. Brandão de (coords.) Dicionário de História do Estado Novo. Lisboa: Círculo de Leitores;
História. Página oficial da Revista Seara Nova.

Veja a localização desta rua no mapa