Rua do Vale de Pereiro

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Quinta do Vale do Pereiro. Terreno.
 
Terreno pertencente à Congregação do Oratório, também designada por Congregação do Oratório de *São Filipe Néri e Nossa Senhora da Assunção [para mais informação sobre esta congregação, cf. Rua de São Filipe Néri].
Fundada em Lisboa em 1659 pelo Padre Bartolomeu do Quental (1626-1698), tomou com fonte inspiradora a congregação criada em Roma por São Filipe Néri (m. 1595) em 1564.

A Quinta do Vale do Pereiro constituía a principal das unidades fundiárias a montante do *Largo do Rato e do Convento das Trinas. Abarcava toda a área onde actuamente existem os arruamentos Rua do Salitre, Rua Rodrigo da Fonseca, Rua Braamcamp, Rua Castilho, Rua da Artilharia n.º 1 e Marquês do Pombal.
Neste local existia, tal como designada pela congregação, a Quinta dos Ciprestes ou “dos Arciprestes”, por lá existirem árvores desta espécie, duas das quais delimitavam a entrada neste espaço. Dedicada à exploração agrícola, caracterizava-se pelo cultivo de vinha e de olival. De entre os vários cordeamentos (procedimentos administrativos camarários), poder-se-ão destacar algumas petições submetidas pela congregação, requerendo a construção de dois muros na estrada do Vale do Pereiro que ia para Campolide, por forma a fecharem um pequeno olival e a quinta (16 de Fevereiro de 1739), bem como a reedificação de propriedades de casas rústicas junto ao muro da cerca pela parte da Rua Direita, que ia para a sua igreja (18 de Agosto de 1745).

Este último, assinala a opção tomada pela congregação no âmbito da conversão deste terreno à exploração imobiliária por via de alugueres e de aforamentos, tendo para o efeito criado um arruamento com o seu nome – *Rua São Filipe Neri – que partia para o *Largo do Rato.
Segundo o padre oratoriano Manuel Portal, esta propriedade dividia-se na Quinta de Fora, mais vasta, formada por colinas e vales, e a Quinta de Dentro, mais plana, apresentando uma porta para o caminho de Santa Marta.
No seguimento do Terramoto de 1 de Novembro de 1755, muitos foram os desalojados que para este local se deslocaram, construindo barracas de pano e de tabique para se abrigarem. Por este motivo, e até 1859, este arruamento tinha por designação Rua do Abarracamento do Vale do Pereiro, próximo do qual se localizava a Azinhaga do Vale do Pereiro.

Na sua obra História da Ruína da Cidade de Lisboa (1756), o padre Manuel Portal relatou que o Cardial Patriarca, D. José Manuel da Câmara (1686-1758), que escapara ao terramoto no palácio dos Nizas onde habitava, instalou-se numa barraca indiscriminada, tendo posteriormente transitado para uma barraca construída em madeira na Quinta de Dentro, com um oratório atinente, dotado de uma tribuna de vidraças, onde celebrou a festa de São José e inclusivamente baptizou uma milha da Marquesa de Niza. Permaneceu neste local até Setembro de 1756, momento em que se mudou com toda a Relação Patriarcal para a Rua da Atalaia.

Existiam também barracas com janelas, dotadas de copa, cozinha, quartos, etc., onde ficaram recolhidos elementos da nobreza tais como os condes de Aveiras, as Marquesas de Niza e de Tancos, bem como vários representantes do clero.
As quarenta freiras do Rato ergueram uma barraca, onde construíram um oratório com o painel de Nossa Senhora da Saudade e imagens de Santo António, de São Filipe Néri, de Nossa Senhora da Assunção e de Senhora de Sant’Ana. Segundo o escritor e jornalista Gustavo Matos Sequeira (1880-1962), no início de 1756 existiam mais de duzentas barracas neste local, onde também se abrigaram os religiosos franciscanos, a Ordem Terceira e o Hospício da Terra Santa.

Nos Domingos e dias santos, mais de uma centena de pessoas acorria para comungar nas mais de dez missas celebradas na Quinta do Vale do Pereiro.
Até Janeiro de 1757, os Oratorianos não cobraram qualquer valor pela ocupação dos seus terrenos. Mas a partir daí, celebraram contratos provisórios com obrigação de despejo.
Em 1775, a quinta foi vendida ao Desembargador Bartolomeu José Nunes Cardoso Geraldes de Andrade, passando-se a designar a Quinta dos Arciprestes também por Pátio do Geraldes.

Agregando a Rua do Abarracamento do Vale do Pereiro e a Travessa de Lázaro Verde, este arruamento passou a designar-se Rua do Vale do Pereiro, iniciando-se na Rua do Salitre e terminando na Rua Alexandre Herculano por Edital do Governo Civil de 1 de Setembro de 1859.
Bibliografia

Marques, João Francisco (2006). “A acção da igreja no Terramoto de Lisboa de 1755: ministério espiritual e pregação” in Lusitânia Sacra, 2.ª Série, n.º 18. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa;
Sequeira, Gustavo de Matos (1933). Depois do terramoto. Subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa. Academia das Ciências de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade;
Teles e Marques, Cátia (2014). “Fontes para o estudo das casas religiosas de Lisboa: os Livros de Cordeamentos de 1700 a 1750” in Cadernos do Arquivo Municipal, 2.ª série, n.º 1. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.

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