Rua Venceslau de Morais

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Venceslau José de Sousa Morais (n. Lisboa, 30 Mai. 1854; m. Tokushima, 1 Jul. 1929) Escritor, Oficial da Marinha Portuguesa.

Aos 17 anos assentou praça no Regimento de Caçadores 5, posição que abandonou para ingressar Marinha, tendo concluído o curso de Escola Naval em 1875 e sido promovido a Segundo-Tenente cinco anos depois. Em 1885 fez a sua segunda estação em Moçambique seguindo para Timor, local onde apenas permaneceu um ano, visto que teve que regressar por motivos de ordem médica.
Entre 1888 deslocou-se em missões para em Macau onde permaneceu durante diz anos. Durante este período escreveu a sua primeira obra, Traços do Extremo-Oriente (publicada em Portugal n’ O Correio da Manhã), foi Professor de Matemática no Liceu de Macau e conheceu, Vong Ioc Chan, uma jovem anglo-chinesa conhecida por Atchan (1889), com quem teve dois filhos, José e João de Sousa Moraes.

Foi ainda nesta estadia em Macau que visitou pela primeira vez o Japão (1889), por ocasião de uma viagem turística, no âmbito da qual passou por Nagasáqui, Kobe e Iokohama. Tendo sentido um absoluto fascínio por este país, empreendeu esforços junto das entidades competentes no sentido de se proceder à criação de um Consulado nesse local, disponibilizando-se para assumir o cargo inerente.
Em 1897 deslocou-se ao Japão na companhia do Governador de Macau, tendo sido recebido pelo Imperador Meiji. Em Dezembro do ano seguinte, foi nomeado Cônsul de Portugal em Kobe, cidade portuária, cuja posição estratégica lhe garantia um contacto contínuo com o Ocidente. Em Setembro do ano seguinte assumiu a função de Cônsul em Osaka.

A partir de 1900 terá adoptado os usos e costumes japoneses. Este processo de aculturação decorreu da sua profunda identificação com o sistema de valores deste país, que considerava como algo sublime e autêntico, e em sintonia com os valores primordiais da humanidade, antagonizando directamente com a civilização ocidental regida pelo materialismo e pela desumanização. Deste modo, foi-se afastando gradualmente de Portugal, embora mantendo contacto correspondência com os seus familiares e amigos.
Envolto em conflitos internos, recorreu à escrita enquanto companheira de solidão e elemento catártico. Escrevendo diariamente, desvendou as especificidades do mundo Oriental aos seus leitores portugueses, produzindo uma prolífica obra literária.

Em 1913, pediu a exoneração das funções de Cônsul de Portugal em Kobe e de Oficial da Marinha, alegando uma total incompatibilidade com a sua nacionalidade ocidental, circunstância que inviabilizaria, evidentemente, o desempenho de cargos de representante oficial do seu país.
Moraes firmou nesse momento uma mudança radical no seu percurso de vida. Tal como indicado por Margarida Capitão, “(...) abdicou do seu estatuto de diplomata e da reforma a que tinha direito e que estava prestes a receber, trocou o seu chapéu, fato e gravata por um quimono, os sapatos ocidentais por getas, frequentou templos budistas e conviveu com as gentes locais”.

Deste modo, em 1913 retirou-se para Tokushima, uma pequena cidade do Sul do Japão, tendo escolhido uma casa com duas divisões sobrepostas, despojada de bens materiais: apenas uma esteira, alguns livros, um mapa de Portugal na parede, alguns móveis e o altar familiar, concretizando definitivamente essa mudança assente na cultura e na praxis nipónicas. Faleceu nesta casa, sozinho, com 72 anos de idade.

Designado Rua Venceslau de Morais, este arruamento tem início em Rua de Artilharia Um e termina em Rua Rodrigo da Fonseca, por deliberação no Edital do Governo Civil de 20 de Fevereiro de 1936.

Obras

Traços do Extremo Oriente (1895); Dai Nippon (1897); Cartas do Japão (1904); O Culto do Chá (1905); Paisagens da China e do Japão (1906); A Vida Japonesa (1907); O Bon Odori em Tokushima (1916); Ko-Haru (1917); O Tiro do Meio Dia (1919); O-Yone e Ko-Haru (1923); Relance da História do Japão (1924); Serões no Japão (1926); Relance da Alma Japoneza (1928).

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