Travessa da Fábrica das Sedas

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A Real Fábrica das Sedas resultou do projecto de reforma do sistema manufactureiro do Reino, no âmbito da qual se desenvolveram acções de profundas reformas urbanísticas. No dia 13 de Fevereiro de 1734, D. João V (1689-1750) permitiu a Robert Godin, um técnico e investidor francês, a instalação de uma unidade de produção de tecidos, designadamente de sedas. No dia 13 de Dezembro do mesmo ano, após ter constituído uma sociedade com outros investidores, Godin recebeu no Alvará Régio, o qual, entre outras regalias, lhe garantiu o domínio monopolista das unidades de produção já existentes.

Muito embora tivesse instalado provisoriamente a fábrica das sedas na Fonte Santa, as instalações definitivas na zona do *Largo do Rato, para onde contratou empregados oriundos de Lyon. Neste local ainda hoje é possível apreciar este edifício.

Em 1749, por motivos de insolvência, a Real Fábrica das Sedas foi expropriada e integrada na Coroa, tendo o *Marquês de Pombal (1699-1782) acabado por coloca-la sob a tutela da Junta do Comércio no dia 6 de Agosto de 1757, já que, até aí, não era possível chegar a consenso entre administração e trabalhadores.

A partir daí, a Real Fábrica das Sedas acabou por integrar o Real Colégio das Manufacturas (ou Colónia Fabril das Amoreiras), uma iniciativa reformista pombalina que incluía a produção de tinturaria e calandragem, cutelaria, pentes, caixas de papelão, vernizes, relógios, limas, botões, fundição, louça, e.o., sendo esta última um exemplo extremamente bem sucedido no âmbito desta dinâmica, consubstanciado na Fábrica da Louça do Rato.

Durante a sua governação, o Marquês de Pombal assegurou o trabalho de aproximadamente 3600 pessoas nestas unidades de produção.

Deste modo, desde 1757, a Fábrica das Sedas alterou estatutariamente a designação dos seus trabalhadores de artífices para fabricantes, que operavam num espaço cuja localização havia sido estrategicamente definida desde o momento da sua implantação: o Bairro das Águas Livres. A proximidade do abastecimento de água através da Mãe de Água permitia uma eficiência na produção sem precedentes, estando capacitada para um sistema de operações direcionado para os processos modernos de operação fabril. Por outro lado, destaque-se a componente urbanística, firmada pelo portentoso arco que se erguia sobre a rua que já na altura subia do Rato até Campolide, a actual *Rua das Amoreiras, símbolo de dinamismo e reforma perfeitamente em linha com o pensamento de Pombal.

A lógica subjacente a esta concepção assentava, entre outros pilares, na criação de fábricas em sectores estratégicos que evitassem importações, financiadas pelo erário público na totalidade, ou em parceria com privados através de concessões (isenções fiscais, e.o.), dotadas de edifícios próprios construídos de raíz, e cuja mão-de-obra deveria ser totalmente nacional, excepto os mestres e operários qualificados, cuja função deveria ser a de gestão e de formação de novos mestres. Pombal aplicou este modelo no Brasil, tendo tentado também em Angola.

Nos primeiros anos do século XIX a Real Fábrica das Sedas entrou num processo de decadência até que, pelo Decreto de 6 de Agosto de 1833, a sua Direcção foi extinta tendo os os membros sido demitidos. Finalmente, por via da Portaria do Ministério do Reino, datada de 27 de Junho de 1835, foi determinado que todos os seus prédios fossem colocados à venda em hasta pública.

Designado Travessa da Fábrica das Sedas, este arruamento inicia-se na Rua São Francisco de Sales e termina na Travessa da Légua da Póvoa.

Bibliografia

AAVV (2009). Património e Biografia. Vieira da Silva e o Jardim das Amoreiras. Lisboa: Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva;
Araújo, Norberto de (s.d.). Peregrinações em Lisboa. Lisboa: Parceria A. M. Pereira;
Melo, Ana Homem de (s.d.). Travessa da Fábrica das Sedas. Gabinete de Estudos Olisiponenses;
Neves, José Acúrcio das (1827). Noções históricas, económicas e administrativas sobre a produção, e a manufactura das Sedas em Portugal e particularmente sobre a Real Fábrica do suburbio do Rato e suas anexas. Lisboa: Impressão Régia.
Rossa, Walter (s.d.). Além da Baixa. Indícios de planeamento urbano na Lisboa setecentista [policopiado]. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

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