Travessa do Enviado de Inglaterra

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Enviados de Inglaterra. Diplomatas ingleses.

A relação entre Portugal e Inglaterra remonta à fundação do reino português, só conhecendo no entanto resultados concretos a partir do século XIV. Muitos foram os acordos e tratados ambas as Coroas. O Tratado de Westminster, assinado no dia 10 de Julho de 1654, garantiu a defesa da independência de Portugal, permitindo, por outro lado, o início da influência da política britânica sobre o nosso país. O Tratado de Methuen, assinado em 23 de Dezembro de 1703, acordo de natureza comercial que, entre outras deliberações, estabelecia a entrada dos lanifícios ingleses em Portugal associada a uma redução das tarifas impostas aos vinhos portugueses que entravam em Inglaterra. Os representantes portugueses foram o Duque do Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira de Melo (1638-1727), presidente do Conselho de Justiça e o *Marquês do Alegrete, Manuel Teles da Silva (1641-1709), Presidente do Conselho das Finanças, e do lado inglês, o diplomata John Methuen (1650-1706).

A longa história das relações entre ambas as nações implicou o envio bilateral de diplomatas. O arruamento em causa refere-se precisamente aos diplomatas ingleses que se estabeleceram em Portugal, ocupando o cargo de Enviado Extraordinário e Ministro Plenopotenciário ou de Embaixador Extraordinário e Plenopotenciário, isto é, chefes de missões diplomáticas ou legações.

De acordo com Gustavo Matos Sequeira (1880-1962), existia neste local um palacete onde habitou o Enviado Extraordinário e Ministro Plenopotenciário, Lorde Robert Stephen Fitzgerald (1765-1833), entre 1802 e 1806. Embora tendo tentado candidatar-se a este cargo em 1800, apenas o conseguiu dois anos depois. Descontente com o seu ordenado, requereu uma promoção para Embaixador Extraordinário e Plenopotenciário, que lhe foi recusada, ausentando-se inúmeras vezes de Portugal, entrando em incumprimento no que respeitava à sua missão diplomática, tendo sido enviado para o Brasil em 1807.

No contexto em que Revolução Francesa (1789-1799) imprimiu uma nova ideologia política e social assente na abolição do tradicionalismo associado à monarquia, à aristicracia e à igreja, a Inglaterra, que havia seguido nos primeiros anos uma politica de neutralidade com a França, quebrou-a no seguimento da condenação do rei Luís XVI (1754-1793) no dia 21 de Janeiro de 1793. Embora tentando manter a neutralidade, Portugal assumiu a sua ligação a Inglaterra.

Deste modo, deu-se a invasão espanhola e francesa na fronteira alentejana no dia 20 de Maio de 1801, naquela que ficou conhecida como a Guerra das Laranjas, a que se seguiu um tratado de paz no âmbito do qual Portugal perdeu Olivença para os espanhóis e a Guiana para França.
No entanto, em Janeiro de 1806 a Espanha denotava movimentação dos seus exércitos junta da fronteira português. Em 1808 deu-se a primeira das Invasões Francesas, de que resultou a prévia transferência da Família Real e de toda a Corte portuguesa para o Brasil, onde chegou no dia 29 de Novembro de 1807. O responsável pelo acompanhamento de todo este processo foi o enviado inglês Lorde Percy Clinton Sydney Smythe, Visconde de Strangford (1780-1855), coordenando a operação com a Marinha Real Britânica. Smythe deixou ainda inúmeras traduções de poemas e biografias de Luís Vaz de Camões (m. 1580) para a língua inglesa.

Com o Ultimato Inglês (1890), este arruamento foi apelidado pelos populares como a “Travessa do Diabo que o Carregue”, tal como a Travessa das Inglesinhas por “Travessa dos Ladrões”.

Designado Travessa do Enviado de Inglaterra, este arruamento inicia-se na Rua de Santa Marta, não tendo saída de veículos.

Bibliografia

n.a. (1803). Report from the Commitee appointed do consider of the charge upon His Majesty’s Civil List Revenue. Londres: The House of Commons;
Monteiro, Nuno Gonçalo F. (2001). “Identificação da política setecentista. Notas sobre Portugal no início do período joanino” in Análise Social, Vol. XXXV, n.º 57. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa;
Sequeira, Gustavo de Matos (1933). Depois do terramoto. Subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa. Academia das Ciências de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade;
Vicente, António Pedro (1988). “A influência inglesa em Portugal. Documentos enviados ao Directório e Consulado (1796-1801) in Revista de História das Ideias. Vol. 10. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.

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