Rua do Passadiço

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Nicolau Bourey

A designação deste arruamento data pelo menos de 1678, data em que Luís Pastor de Macedo a identificou nos registos da Paróquia de São José.

O século XVII em Portugal ficou marcado pela Restauração da Independência (1640-1668) que assinalou o final da União Ibérica. No campo intelectual, um dos seus apoiantes foi o Padre António Vieira (1608-1697). Entre a sua prolífica obra, destaca-se a sua tese assente numa crença messiânica e milenarista designada por Quinto Império
No dia 29 de Abril de 1659, doente na cidade de Cametá, redigiu o seu primeiro tratado futurológico designado "Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo", no qual profetizava que, após os impérios Assírio, Persa, Grego e Romano, Portugal seria o grande império do futuro.

 Tratava-se de um texto baseado na profecia Sebastianista que assentava na ressurreição do Rei D. João IV (1604-1656), seu protector e salvador do Império. Vieira enviou este escrito ao bispo do Japão, na sequência do qual foi acusado pela Inquisição sob as acusações de defesa dos Judeus, crença justamente no Quinto Império, bem como nas profecias de Gonçalo Annes Bandarra (1500-1556), das quais foi posteriormente amnistiado.
Com esta tese, Vieira pretendeu legitimar o movimento autonomista português a partir do qual se concretizou a Restauração da Independência de Portugal operada a partir do Golpe de Estado de 1 de Dezembro de 1640, aclamação do Rei D. João IV e as subsequentes vitórias portuguesas nas batalhas do Montijo (1644), das Linhas de Elvas (1659), de Castelo Rodrigo (1664) e de Montes Claros (1665), culminando na assinatura do Tratado de Lisboa de 1668 celebrado entre os regentes de ambos os reinos: D. Pedro II (1648-1706) por Portugal, em nome de D. Afonso VI (1656-1683) e a Rainha Maria Ana de Áustria (1634-1696), em nome de D. Carlos II de Espanha (1661-1700).

Dos poucos apoiantes conhecidos do texto profético do Padre António Vieira, destaca-se Nicolau Bourey (1586-1669). Nascido na Antuérpia em 1586,  deslocou-se para Lisboa em 1608, onde se estabeleceu como mercador. Casou-se com uma portuguesa de quem teve vários filhos, entre os quais Jorge Bourey.
Familiar do Santo Ofício, esteve preso na cadeia do Limoeiro em 1660, local onde redigiu uma carta de apoio ao Padre António Vieira, após ter tido acesso ao texto ao seu texto. Ao ter conhecimento deste escrito, a Inquisição interrogou o belga no dia 2 de Abril de 1661, tendo-o no entanto absolvido no dia 5 de Maio do mesmo ano.

Em 1637, Bourey requereu uma licença à Paróquia de São José para a construção de um passadiço que estabelecesse a ligação entre a sua fazenda e casas que tinha “por baixo de Santo António dos Capuchos e huma vinha toda sercada de muro entre a qual e as suas casas corre huma rua de serventia para o povo” comprometendo-se a destrui-lo se tal fosse necessário pelo grande movimento que a passagem poderia vir a ter.
Aos 83 anos, tentou cometer o suicídio, saltando da janela da sua casa de Campolide. Não tendo sido bem sucedido, atirou-se de seguida para um poço, mas foi salvo pelos filhos. Acabou por morrer de gripe alguns dias depois, provocada pelo tempo que permaneceu no fundo do poço.
As suas propriedades e respectivo passadiço foram arrematadas por António Ribeiro de Carvalho (1660) e, já após a sua morte, em 1698, por Luís Soares Barreto.

Designado Rua do Passadiço, este arruamento inicia-se na Rua de Santo António dos Capuchos, terminando na Travessa de Santa Marta.

Bibliografia

Besselaar, José Van Den (1987). O Sebastianismo – história sumária. Lisboa: Ministério da Educação e da Cultura – Livraria Bertrand;
Macedo, Luís Pastor de (s.d.). Ficheiro Toponímico. Lisboa: Gabinete de Estudos Olisiponeneses;
Melo, Ana Homem de (s.d.). Rua do Passadiço. Lisboa: Gabinete de Estudos Olisiponeneses.

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