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Parque Mayer, Por onde vais?
“Conhecer o passado para entender o presente e construir o futuro”. A aplicar-se esta máxima, o destino do Parque Mayer está condenado. Os avanços e recuos, os dito-por-não-dito, os projectos de recuperação que não saem do papel são quase tão antigos como o próprio espaço. O Parque Mayer, com as suas 4 magníficas torres desenhadas pelo Arq. Cristino da Silva, foi inaugurado em Julho de 1922 e adoptou o seu nome dos jardins (parque) que serviam os antigos proprietários do Palácio Mayer. Nasce com a abertura do Teatro Maria Vitória (1922), seguindo-se o Variedades (1926), o Capitólio (1931) e o ABC (1956) ganhando assim a alcunha de "pequena Broadway portuguesa". Para além dos teatros, no espaço couberam casas de fado, espaços de restauração, recintos de patinagem, barraquinhas de feira e até o “Pavilhão Português”. E esta é a génese: uma concentração de “produtos” e “serviços” de cultura e diversão. E que brilho tinha! Depois, durante o estado novo, numa espécie de refúgio, o Parque Mayer acolheu grandes nomes da nossa cultura - Sousa Bastos, Eduardo Damas, César de Oliveira – que escreviam textos contra a ditadura, para que outros grandes nomes como Vasco Santana, António Silva, Laura Alves ou Beatriz Costa os pudessem declamar. Já nos anos 80, e embora alguns empresários tentassem a todo o custo puxar pelo local, os teatros deram lugar a salas de cinema (que lentamente escorregaram para os filmes de adultos), os espaços de restauração foram fechando, a animação foi-se e o abandono impôs-se. Os diversos projectos para o espaço, desde as ideias grandiosas de uma torre com 448 quartos, de 1969, até ao recente projecto de simples estacionamento nunca passaram do papel. Sempre começados, nunca acabados. E sempre “ao lado”. O Parque Mayer faz parte da nossa história, da nossa herança. O Parque Mayer só tem que voltar a ser aquilo que sempre foi: a Aldeia Cultural de Portugal. Um espaço único (e Único) que albergue os Conservatórios da especialidade- Dança, Musica, Actores - dois teatros de médio porte (Variedades e Capitólio), cinco pequenas salas de espectáculos, para as mais variadas companhias e espectáculos de final de ano das escolas do espaço, espaços de restauração e cultura livre nas praças centrais. Um "FAME" à nossa boa maneira. Esta é, resumidamente, a proposta que defendo. Eu que nasci e cresci no Parque Mayer, que conheço os becos e praças, os pósteres, as cadeiras da plateia, os camarins e escritórios onde os meus avós Vasco Morgado e Laura Alves me falavam do teatro, com aquele brilho nos olhos que ainda e sempre recordo. E, pasme-se, todo este projecto pode ser real. O que falta? A vontade política de quem gere os destinos da nossa Lisboa. Vamos falando…