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Entrevista a Camané
Nascido em Oeiras em 1967, Camané começou a cantar fado com 10 anos e estreou-se profissionalmente aos 18. Em 1979, foi o vencedor da Grande Noite do Fado. Cantou em diversas casas de fado, participou em várias produções dirigidas por Filipe La Féria e atuou em diversos países por esse mundo fora. Vive na Freguesia de Santo António há cerca de três anos. Há quanto tempo vive na Freguesia de Santo António e o que é que mais o atrai? Estou a viver aqui há cerca de três anos. O que mais me atrai é o facto de ser um sítio calmo, onde passam poucos carros. Gosto do ambiente, gosto das pessoas da rua. Foi bem acolhido aqui no bairro? Sim, fui muito bem acolhido por todos. Sempre fui um bocado discreto. Acho que me comporto-me como uma pessoa normal, que sou, no dia-a-dia. Depois, estou aqui muito perto da Avenida da Liberdade. Muitas vezes, deixo o meu carro estacionado e vou passear a pé. Outras vezes, pego na bicicleta e vou até à zona ribeirinha. Qual é o seu último projeto musical e como é que está a correr? Editei um disco há cerca de um mês e meio, dois meses, que se chama Infinito Presente. É um disco que está a correr muito bem, que teve uma grande aceitação do público, da crítica, que entrou diretamente para o 1.º lugar. O que tenho estado a fazer é imensos concertos. Sendo uma canção ligada a esse sentimento tão português que é a saudade, como é que se explica que o fado seja cada vez mais apreciado por cidadãos estrangeiros? Uma das coisas que a música tem é ultrapassar a barreira da língua. O flamenco é uma música conhecida no mundo inteiro, o tango também. Eu acho que o fado está a tornar-se também uma música conhecida no mundo inteiro da mesma forma. Uma das coisas que foi importante foi o facto de o fado fazer parte da vida dos portugueses outra vez. Houve uma fase em que havia algum preconceito em relação ao fado, até de uma forma injusta. O que provocou esse divórcio dos portugueses em relação ao fado? Eu acho que tem que ver com uma série de preconceitos que eram errados. Havia umas desculpas que o fado era triste. Eu lembro-me que, quando era miúdo, era gozado na escola porque cantava fado. Mas o fado era uma música cheia de qualidades, com grandes poetas. Houve um certo preconceito, que tinha que ver com a ideia errada de que o fado pertencia ao antigo regime, o que não é verdade. Quando é que se dá esta reaproximação ao fado? No meu caso, com a minha música, comecei a sentir nos concertos malta mais nova a partir de 1996. Gravei o meu primeiro disco em 1995 e posso dizer que tive dois concertos em Portugal e 32 fora de Portugal. Mas acho que havia ainda uma massa popular de gente que não ouvia fado que começou a ouvir fado nessa altura. Os jornalistas mais novos começaram-se a interessar pelo meu trabalho. Depois, recebi o prémio Blitz – um jornal de rock – para melhor intérprete em 1999. Depois, o Globo de Ouro, que mostrou que eu tinha ganhado uma certa popularidade que eu não sabia que tinha. O fado é um bocadinho como o efeito Mourinho: se faz sucesso lá fora, temos que agarrar nisso. Dá-lhe mais prazer os concertos ou gravar? Os concertos, embora goste cada vez mais do estúdio também. Mas os concertos, para mim, é quando as músicas ganham vida, ganham uma dimensão completamente diferente. Se tivesse de recomendar a Freguesia de Santo António a um/a amigo/a, o que destacaria? A Rua de São José. É só restaurantes fantásticos. Tem imensa gente simpática. Tem algumas lojinhas de antiguidades que valem a pena. É uma rua muito calma, que tem de tudo um pouco. As pessoas são discretas, não se metem na vida uns dos outros, e isso é algo de muito bom. É uma zona que tem casas lindíssimas, recuperadas, com jardins atrás. Tem muitos estudantes estrangeiros também. Depois, tem o Jardim do Torel, que é lindíssimo e que as pessoas têm de descobrir bem. Vou lá muitas vezes. É maravilhoso.