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Entrevista Associação João 13
Desde o dia 6 de outubro de 2015 que a João 13 – Associação de Apoio e Serviços a pessoas carenciadas promove, no Centro Social Laura Alves, serviços de banhos, mudança de roupa, refeições servidas à mesa, assim como alguns cuidados de saúde e encaminhamento para outras instituições de apoio às pessoas sem-abrigo. O funcionamento é às terças, quintas e sábados, das 18H00 às 22H30. Uma parceria entre a Freguesia de Santo António e a João 13. Há três meses a funcionar duplicaram as refeições servidas, de 214 em outubro para 502 em dezembro.
Neste último mês foi implementado um novo serviço: à saída todos as pessoas sem-abrigo levam o pequeno-almoço. Um trabalho que só possível com a ajuda dos 170 voluntários. Como forma de percebermos melhor esse trabalho estivemos à conversa com o Frei Filipe Rodrigues, da Associação João 13. Como nasce a parceria da Associação e a Freguesia Santo António-Lisboa? A parceria nasceu da João 13 querer prestar alguns serviços de apoio a pessoas carenciadas, em especial as pessoas sem-abrigo. Demos conta que na Avenida da Liberdade haviam muitas pessoas sem-abrigo que têm alguns cuidados de rotina, como o de ir buscar comida às carrinhas. A nossa maneira de estar como associação é dignificar a pessoa humana e poder dar estes serviços básicos de higiene e de alimentação: possibilidade de tomarem banho, mudarem de roupa e comida à mesa. O que contraria a ida da carrinha aos lugares deles, à rua. Assim com este espaço sabem que têm um centro de acolhimento e foi nesse sentido que a Junta se mostrou interessada em acolher este projeto. Assim nasceu esta parceria. A freguesia cede-nos este centro onde ao final da tarde, três vezes por semana, abrimos as portas para estas pessoas. Para serem acolhidas, tomar banho de água quente, mudar de roupa e uma refeição à mesa. Acho importante os fregueses saberem que a Freguesia de Santo António tem esta grande preocupação de atender estas pessoas que de uma maneira ou de outra pertencem à freguesia. Quando começaram a funcionar? A 6 de outubro de 2015. Tem por isso 3 meses e tem vindo a crescer. Em outubro servimos 214 refeições e em dezembro duplicaram para 502. No caso dos banhos passámos de 119 para 160. Nunca fizemos qualquer tipo de propaganda, funciona como espalha palavra entre os sem-abrigo. Para quem chega ao Centro Social Laura Alves como é feito o acolhimento? Quando chegam fazemos uma pequena triagem. Caso venham pela primeira vez perguntamos o nome, idade, em que zona está a pernoitar, tamanho de roupa. No caso da roupa é para que esta possa ser preparada e criar hábitos entre eles para que cada um tenha a sua roupa. Por exemplo, a roupa que têm na quinta-feira, será lavada no sábado e pode ser usada terça-feira outra vez. Isto também nos permite combater o desperdiço de roupa. Se a pessoa estiver para o banho, preparamos tudo o que é preciso. A roupa é no piso de cima, damos toalha e o gel de banho é comum. A roupa usada que pode ser tratada lavamos aqui no Centro, o que é uma coisa boa. Depois vão jantar e vão embora. Quantos voluntários têm para vos ajudar? Temos 170 voluntários mas em 2 divisões: voluntários diretos e indiretos. Os diretos são os que estão aqui das 18h30-21h a gerir a logística. Os indiretos são aqueles que durante o dia fornecem o centro, vão comprar as coisas para o pequeno-almoço, no fundo fazem a manutenção logística de tudo. E quais são as faixas etárias dos voluntários? Temos faixas etárias diferentes, desde miúdos (que são aqueles que mais falam com os sem abrigo), que são os filhos dos voluntários que vêm para cá, o mais novo tem 11 anos mas sempre acompanhado pelos pais. Mas o normal são jovens com 14 anos até pessoas com 70-80 anos. Há voluntários por exemplo que estão em casa a cozinhar, a cozer alguma peça de roupa. Houve serviços que mudaram ou criaram para ir ao encontro da realidade de quem vive na rua? Não percebíamos a razão de eles quererem sair tão rápido, uma vez que queriam apanhar as carrinhas que distribuem o pão para o dia a seguir. E então na noite de Natal implementámos um outro serviço. Desde o dia 24 de dezembro que fornecemos também o pequeno-almoço. Há saída levam um saquinho com o pequeno-almoço para o dia a seguir. Como foi a celebração do Natal? Na noite de Natal tivemos aqui uma equipa que veio dar jantares entre as 17h30 e as 20h. Uma ceia de Natal com 40 sem abrigo, onde a freguesia ofereceu o bacalhau. Numa angariação conseguimos também os doces. E oferecemos um gorro, cachecol e luvas. A passagem d’ano também celebrámos. Projetos futuros? Estamos a prever a abertura de um novo dia, porque soubemos por eles que as carrinhas que passavam aqui às quartas-feiras já não passam. Logo à quarta temos um “buraco” e como temos excedentes de voluntários pretendemos abrir mais um dia para que não fiquem sem ajuda. Há ainda muitos preconceitos em relação à pessoa sem-abrigo? Nós temos muitos preconceitos, por exemplo que eles não falam, que são anti sociais, que não conseguem comer frente a frente. Aqui (Centro Social Laura Alves) estas mesas estão frente a frente e eles conversam. Eles precisam de ser ouvidos, são pessoas revoltadas, com motivo ou não, têm que sentir que estamos aqui e não somos técnicos, somos só pessoas que estão aqui a falar voluntariado. Da nossa parte é estarmos aqui para os acolher e tentar responder às necessidades deles, nada de luxos. Dar apoio dentro da normalidade como numa casa de família, porque se em nossa casa algum filho chega ferido tratamos dele. No fundo, humanizar os sem-abrigo para que percebam que há um sítio onde podem ser acolhidos, onde não fazemos perguntas e onde eles se podem sentir bem. [cycloneslider id="joao-13"]