Parque Mayer
Muito embora o Teatro de Revista tenha surgido em Portugal em 1851, o primeiro espaço que veio a concentrar vários teatros especializados neste género foi o Parque Mayer, inaugurado no dia 15 de Junho de 1922.
Resultou de uma partilha familiar do Palácio Lima Mayer, pertencente a Adolfo de Lima Mayer (1838-1918), cujos jardins e espaços adjacentes foram adquiridos por Artur Brandão e vendidos em 1921 ao empresário, jornalista e autor Luís Galhardo (1874-1929), que fundou a empresa Sociedade Avenida Parque, Lda., com o intuito de explorar esse espaço no âmbito de uma indústria do espectáculo e do entretenimento.
Tratava-se de um local de divertimento e de sociabilidades, que, para além dos quatro teatros que viria a ter, disponibilizava aos seus consumidores “feiras típicas”, cafés, restaurantes, clubes e cabarets. Neste contexto, poder-se-ão destacar as barracas de tiro, os fantoches, os carrocéis, bailes de fim-de-semana, bailes do Carnaval, o estúdio de fotografia Fotografia Lusitana, o animatógrafo no espalho Alhambra e Pavilhão Português, os ringues de patinagem, os carrinhos de choque, entre outros.
À data da sua inauguração, foi também inaugurado o seu primeiro espaço teatral – o Teatro Maria Vitória, a que se seguiu o Teatro Variedades (8 de Julho de 1926), o Teatro Capitólio (10 de Julho de 1931) e o Teatro ABC (13 de Janeiro de 1956).
Este espaço lisboeta rapidamente se transformou num polo de atracção que fomentou a mobilização da população de todo o país motivada pelo desejo de fruição dos espectáculos de revista, das suas vedetas e repertórios musicais que estas interpretavam.
Com efeito, a grande maioria dos espaços de performação deste género teatral concentrou-se neste espaço durante anos, tendo mesmo chegado a ser conhecido como a Broadway portuguesa ou a Catedral da Revista. Existiam, evidentemente, outros espaços teatrais que levavam à cena espectáculos de Revista, sendo que, no entanto, o Parque Mayer foi assumido enquanto símbolo distintivo associado a este género de Teatro Popular Ligeiro.
Estendendo-se ao longo de praticamente trinta anos, este enquadramento modificou-se no início da década de 1950 com o surgimento do empresário Vasco Morgado que, com a inauguração do Teatro Monumental no dia 8 de Novembro de 1951, criou toda uma gama de espectáculos orientados para um tipo de consumo mais sofisticado, o que incrementou o carácter popular do Parque Mayer, que se dirigia a um público habituado à chamada Revista à Portuguesa, ou seja, com um formato tradicional, tal como existia desde o seu surgimento, tal como acima referido, em 1851.
O novo modelo sócio-político erigido a partir do 25 de Abril de 1974, implicou novamente a criação novos hábitos de consumo, alterando por este motivo as preferências do público português. A dissolução das Comissões de Censura vetou a necessidade da crítica velada e metafórica – uma das mais inteligentes, satíricas e divertidas características do Teatro de Revista – relegando este género teatral, na época em claro declínio, para um tipo de texto de recurso recorrente ao calão, ao seu quase desaparecimento.
Despojado das suas barraquinhas, ringues e pistas (considere-se também a abertura da Feira Popular em Entrecampos no dia 24 de Junho de 1961), incapaz de atrair o público de outrora, o Parque Mayer transformou-se num espaço vetado ao abandono, onde apenas resistiu o empresário teatral Hélder Costa, grande responsável pela sobrevivência deste género teatral no ainda operacional e recuperado Teatro Maria Vitória.
Actualmente, o Parque Mayer sofreu extensas obras de melhoramento, tendo muito recentemente sido concluída a remodelação total do Teatro Capitólio, rebaptizado para Teatro Raúl Solnado.
Designado Parque Mayer, arruamento situa-se junto do lado ocidental da Avenida da Liberdade, entre a Rua do Salitre e a Praça da Alegria.
Antunes de Oliveira, Gonçalo (em preparação). “O Teatro do Povo ou para o Povo, quem o faz sou eu: Vasco Morgado e o Teatro de Revista em Lisboa (1951-1979). Dissertação de Doutoramento em Ciências Musicais – Ramo de Etnomusicologia. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.