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"Lisboetas, os que restam"
Podemos nós continuar a permitir que os Lisboetas continuem a sair de Lisboa?
Que a cidade os expulse, e que se vejam obrigados a procurar, longe das suas vidas e das suas gentes, um (re)começo no escuro?
A questão-chave é habitação. A existência e as condições da habitação na cidade, ou seja Politicas Públicas de Habitação.
É preciso olhar para o património disperso da Câmara Municipal de Lisboa (mais de 3000 fogos), recuperar o mesmo e colocar essas casas no mercado de arrendamento, a preço realmente acessível, até com discriminação positiva para jovens lisboetas em início de vida, com filhos ou sem.
É necessário voltar a estabelecer ligações e âncoras para as famílias conseguirem voltar a criar "alfacinhas" novamente na cidade que tanto amamos, pois só com Alfacinhas, Lisboa irá viver mais 900 anos, como até aqui.
Precisamos também de novas regras no que diz respeito às casas já existentes, firmes, concretas e sem zonas cinzentas, que impliquem a responsabilização de todos, inquilinos e proprietários (com especial enfoque no maior, a CML)
Sei bem que isto só não chega, é preciso também construir. Mas de forma a não sectorizar ou tornar a cidade ainda mais classista, como os últimos 14 anos de governação a transformou pelas mãos do anterior executivo camarário. Aliás, só encontrando comparação na Nova Iorque do arqº Robert Moses, aquele que até viadutos mais baixos construiu, para evitar a passagem de transportes públicos utilizados pelas Pessoas que não dispunham de transporte próprio para chegar às novas zonas construídas com o dinheiro de todos. Faz lembrar o filme distópico de ficção "In Time" (Sem Tempo) com Justin Timberlake, onde, entre outras coisas, existiam diversas fronteiras físicas entre as zonas da cidade dos mais abastados e aquelas onde habitavam os que pouco tinham.
Maior erro não pode haver, Lisboa não pode ter Lisboetas de 1ª e de 2ª. Lisboa precisa e sempre precisou de todos.
E, por falar em filmes, deixo aqui uma sugestão a quem tiver HBO: Vejam o "Show Me a Hero", com o Óscar Isac, sobre política de habitação, uma história verídica.
Mas o atual Partido Socialista em Lisboa, teima em querer continuar a manter, uma vez mais, transformar Lisboa numa cidade apenas e só para os têm MUITO dinheiro, relegando uma vez mais os Lisboetas para uma espécie em vias de extinção, mercê da sua visão de DDT, sem perceberem ainda que NÂO ganharam as eleições, e que nós, os Lisboetas que restam, NÃO SOMOS DANOS COLATERAIS.
A Habitação por si é um direito consagrado na constituição. E desta, a Habitação é uma necessidade. Na minha opinião, só é uma necessidade, porque ainda ninguém teve coragem de fazer as coisas como deve de ser: deixar cair a palavra SOCIAL à frente da palavra HABITAÇÃO e tratar do assunto como um todo, fazendo da palavra Habitação algo que rima com coração, com dignidade. É o dever de quem é eleito. E para isso é preciso uma nova política de Habitação pública em Lisboa.
E habitação tem também a ver com infraestruturas eficazes de mobilidade e de serviços. Lisboa tem que dar aos Lisboetas e/ou a quem nela habita soluções pragmáticas, práticas e reais.
Lisboa, como cidade universitária que é, tem de ter, por exemplo, salas de estudo abertas 24 horas por dia para os universitários.
Cinco salas espalhadas pela cidade, estrategicamente para que TODOS os estudantes consigam aceder. Mas não as pode só anunciar, tem de as concretizar.
Temos que cumprir o nosso dever destemida e eficazmente para defender as Pessoas, os Lisboetas, numa questão que só importa aos homens e às mulheres que realmente se preocupam com a nossa cidade, a virtude, a virtude de defender os Lisboetas e LISBOA como se de uma crença se tratasse, a cumprir o nosso dever, a cumprir o que concebemos e prometemos quando nos candidatamos, para que no fim todos possamos sair a ganhar.
Se isso acontecer, quem ganha é LISBOA!
Agora, para que daqui a uns anos Lisboa e os Lisboetas se lembrem que houve um ponto de viragem, tem de existir uma equipa que tenha a ousadia de sonhar com uma cidade cheia deLisboetas outra vez, e a capacidade de tecnicamente o começar a executar.
Com políticas pensadas de habitação, de mobilidade, de integração. No terreno e não nos gabinetes.
Trazer, e manter Pessoas em Lisboa tem de ser um desígnio. Pode não ser conseguido em 4 anos, bolas, nem em 8 ou até nos próximos 20 anos. Mas o primeiro passo tem de ser dado, e já. E o primeiro passo é o início da mudança, da viragem, do caminho. Para que daqui a 20 anos se diga que fomos nós que invertemos a tendência, que começamos. AGORA é o tempo.
Porque agora são efetivamente NOVOS TEMPOS.
Artigo de Opinião do Presidente da Junta de Freguesia de Santo António, Lisboa, no Jornal de Notícias (04 de janeiro de 2022)