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Inundações em Lisboa: Causas, Consequências e Soluções
As chuvas fortes e concentradas que caíram sobre a cidade de Lisboa no passado mês de Outubro, voltaram a alagar vários pontos da Freguesia de Santo António. A quantidade de água que caiu num curto espaço de tempo e as marés cheias que se registaram causaram inevitavelmente inundações em Santa Marta, São José e Rua das Pretas. A água não encontrou escoamento a caminho do rio e uma vez mais, subiu à superfície, submergindo estradas, passeios e alguns edifícios particulares e comerciais. “As causas são naturais. Não há capacidade suficiente para acumular tanta água”, explica o presidente da Freguesia de Santo António, Vasco Morgado. O Presidente insiste que a limpeza das sarjetas é essencial para minimizar os estragos, mas não chega para solucionar o problema das cheias na cidade. As artérias, sarjetas e sumidouros de Santo António foram devidamente limpos e desobstruídos – inclusive após as inundações do dia 22 de Setembro provocadas igualmente pela forte precipitação. No entanto, estas acções não são suficientes para acabar com os alagamentos. José Levita, responsável pela acção dos Bombeiros Voluntários da Ajuda no dia das inundações reforça essa mesma ideia de que “não são as sarjetas que estão entupidas”, acreditando que os esgotos não estão preparados para escoar tanta água, uma vez que este não era um problema comum à data da construção dos mesmos. Porém, os actuais estados metereológicos colocam a necessidade de pôr em prática um plano de acção que permita evitar inundações desta dimensão, ou pelo menos minimizar os danos. Lisboa é uma cidade construída por cima de rios e ribeiras. António Carmona Rodrigues, ex-presidente da Câmara, disse esta quarta-feira, 15, ao DN que “enquanto nada se alterar na componente terrestre do ciclo hidrológico em Lisboa, vai com certeza continuar a haver situações destas, porventura até com maior frequência”. Só em Santo António existem 17 ribeiros e 31 confluentes – fluxos que desaguam directamente para a zona de Santa Marta, São José e Rua das Pretas. Em acréscimo, a Ribeira de Vale Verde têm visto o seu percurso desviado por vários lados, após a construção de garagens. Vasco Morgado defende que os estragos “podem ser minimizados, se a Câmara executar o plano de drenagem que está em papel há muitos anos.” Esse plano foi aprovado em 2008 e prevê a construção de sete reservatórios e uma bacia de retenção a céu aberto, no sopé de Monsanto, junto ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. O plano de drenagem de Lisboa é um projecto algo dispendioso – implica mexer no subsolo da cidade e criar uma divisão de redes, separando as águas fluviais das de esgoto –, mas para muitos é a solução para minimizar as inundações na capital. O presidente da Freguesia de Santo António afirma que “a Câmara Municipal de Lisboa tem de definir prioridades, e executar as necessárias obras chatas e não visíveis, como é o plano de drenagem da cidade.” Para o bombeiro José Levita, um plano deste tipo pode vir a ajudar principalmente as zonas da cidade que nunca tiveram problemas de cheias e agora estão a ter, cada vez com mais frequência. As soluções técnicas do projeto passam pela construção de quatro grandes reservatórios para amortecer os caudais, de um túnel entre o Martim Moniz e Santa Apolónia (com um quilómetro e 65 metros de profundidade) e de uma bacia de retenção a céu aberto na zona de Benfica – Campolide (com cerca de 1200 metros cúbicos) para evitar as inundações frequentes na zona de Alcântara – que possui o maior sistema hidráulico da cidade. É proposta ainda a construção ou reconstrução de colectores com falta de capacidade de escoamento, o aumento da capacidade elevatória da zona ribeirinha, entre outras medidas. No total, as intervenções têm um custo estimado de 140 milhões de euros. Este plano, o primeiro feito em 40 anos, foi concebido por uma equipa do consórcio Chiron/Engidro/Hidra e aprovado pelo executivo municipal de Lisboa, há seis anos, mas ainda não foi concretizado. Carmona Rodrigues, que enquanto vereador da oposição apresentou o plano de drenagem da cidade, questionou as razões pelas quais este ainda não foi posto em prática. Ao DN, disse não ser necessário fazer “tudo de uma vez” porque “se se começar a fazer duas ou três bacias em vez de se começar a fazer 10 ou 12, com certeza será muito mais barato e já vai dando resultados.” “A construção de bacias de retenção na alta de Lisboa já é defendida pelo arquitecto Ribeiro Teles há cerca de 20 anos”, relembra também Vasco Morgado. O vencedor do “nobel” da arquitectura paisagistas – prémio Sir Geoffrey Jellicoe pela Federação Internacional de Arquitectos Paisagistas – é a favor da manutenção das ribeiras e da construção de pequenas barragens de retenção de água para prevenir cheias em Lisboa. Em 2008, na véspera da discussão do plano de drenagem, Gonçalo Ribeiro Telles, em declarações à Lusa, defendeu “a recuperação das ribeiras e a retenção a céu aberto das linhas de água através de pequenas barragens”. Outra medida defendida por vários urbanistas e dirigentes e que pode minimizar os estragos das cheias é a criação de descontinuidades nos pisos – deixar logradouros com terra, usar calçada ou paralelepípedos que permitam a infiltração, criar espaços verdes, entre outros – de modo a evitar que o solo fique totalmente impermeabilizado. À Freguesia de Santo António resta apenas ajudar a prever, na medida do possível, e ajudar a resolver os problemas causados pelas chuvas e, quando a situação acontece, sair novamente à rua para prestar auxílio aos fregueses e comerciantes afectados pelo mau tempo, colaborando com os bombeiros e forças de intervenção, de modo a remover o lixo das ruas, bombear a água dos alagamentos e viabilizar a circulação. Bem a propósito, vale a pena ver a reportagem "A TEMPESTADE" da TVI, que foi para o ar a 16 Fev 2015