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Entregues mais de 200 Cabazes de Natal
Entre os dias 19 e 20 de dezembro, a Freguesia de Santo António, através do pelouro de Ação Social, distribuiu mais de duas centenas de cabazes junto de pessoas carenciadas. O bacalhau e o bolo-Rei não faltaram neste cesto solidário composto por diversos bens alimentares doados por particulares e empresas, e que chegaram à mesa dos que, por força das adversidades económicas, dependiam desta ajuda para terem uma refeição mais aconchegante este Natal.
A azáfama era mais que muita na Valor Humano, onde se ultimaram os mais de 200 cabazes que este ano foram tradicionalmente entregues para que, quem precisa, pudesse desfrutar de uma refeição de Natal mais abundante.
A lista dos inscritos para receberem o Cabaz é o equivalente à lista de desejos que muitas famílias escrevem com as suas crianças ao Pai Natal. Mas aqui o que figuram são nomes de pessoas cuja realidade da vida os faz sonhar, quase e apenas só, por uma refeição mais aconchegante.
As estórias por trás de cada nome, bem como os seus rostos, são bem conhecidos pelos técnicos da Ação Social da Freguesia de Santo António, que nestes dias perfilam o mais parecido com o velhote das barbas brancas que deixa presentes a quem se portou bem durante o ano. Neste caso, a visita foi antecipada e as prendas foram alimentos entregues a quem anseia por um milagre todos os dias.
Cada toque, uma história de vida
A campainha toca. De lá responde o Sr. Abílio.
Surge com ar encurvado pelas moléstias da vida que o empurraram para a comunidade Vida e Paz, de lá para uma outra instituição de Solidariedade Social e dali, uma nova lei, levou-o a procurar um quarto para partilhar com outros que, como ele, sobrevivem com o rendimento social de inserção.
A sua idade – “65 anos, faço os 66 para Setembro do próximo ano”, refere - ainda não permite reforma, mas também não o torna competitivo aos olhos do mercado de trabalho. Assim, vai aguardando que o tempo passe e chegue à idade legal de receber reforma – “que não será muito mais do que aquilo que já recebo”. “Por isso, me inscrevi para receber o Cabaz de Natal”, continua.
Quando questionado sobre como seria o seu Natal sem esta ajuda da Freguesia de Santo António, a resposta (como todas as outras recebidas a esta interrogação) dá-se no silêncio das lágrimas e de um encolher de ombros de quem sabe que, Natal haveria sempre, mas não seria a mesma coisa...
A viagem prossegue. Outra campainha, outra história.
Foi a vez do Senhor Carlos, receber com um sorriso o Cabaz de Natal.
Sessenta e oito anos, mora com a esposa doente e um irmão. “Inscrevi-me por necessidade, a vida não está fácil”, e não o admite com vergonha da ajuda mas sim entre uma resignação que toca a tristeza profunda.
“Tenho filhos, que me visitam de vez em quando, mas cada um está nas suas casas”, diz entre um paternal “graças a Deus”. Ainda assim, passaria o Natal apenas com a esposa e o irmão. É que, aos filhos a quem deram a vida, esta agora pertencia apenas e só a cada um deles para fazer dela o que quisessem...
Manuel e Maria Luís (74 e 78 anos, respetivamente) não têm a questão filial para se preocuparem. Apenas mesmo a saúde (e a falta de meios económicos que lhe permitam ter uma refeição mais abastada a cada dia).
Maria Luísa sofre de Alzheimer e “já não consigo ir às compras, perco-me”, dizia enquanto o marido acrescentava “assim, recebemos o que precisamos e olhe que precisamos mesmo: a renda é alta e as reformas não dão para nada”.
O denominador comum de cada um deles: é que “sem esta ajuda da Freguesia de Santo António, este Natal seria mais pobre, com certeza”.