Uma peça que escapa à perfeição onde a memória e a sua perda nos conduzem ao encontro de “Miquelina e Miguel”, que esteve em cena no Teatro do Bairro Alto (TBA).

No dia 6 de julho levámos os nossos fregueses a assistir a um encontro único, carinhoso, onde a dança, o absurdo e a fragilidade são vividas entre o coreógrafo Miguel Pereira e sua mãe, Miquelina da Costa Frederico.

“Quando comecei a ver a peça pensei que aqueles atores tinham má dicção e estavam mal colocados. Fiquei triste porque não sabia nada da história. Mas no desenrolar da peça, fui percebendo que aquela senhora não era atriz. Achei a ideia fantástica. Uma pessoa sem escola de teatro, sem experiência e num processo de demência, fazer aquele quadro de mãe e filho. Achei muito interessante”. Confessa-nos Maria Beja, uma das freguesas que usufruiu do bilhete dado pela nossa Freguesia de Santo António.

Ao início, ficamos a saber que Miquelina nasceu perto de Tomar e que aos cinco anos foi para Moçambique com os pais e irmãos. Aí encontrou o amor, casou, e teve dois filhos, Miguel e Magda, que vieram para Portugal, viver com familiares, em 1976, em resultado da independência de Moçambique. Os pais só chegaram quatro anos depois. Nos últimos anos, Miquelina tem vivido com diagnóstico de demência.

“Aqui deixamos transparecer a nossa vida, pessoal e coletiva (...) procuro tornar palpável e mais partilhável o afeto em toda a sua complexidade, a estranheza e a paradoxalidade de tantas situações que vivemos ao longo da vida”, afirma Miguel que nem teve a ideia de criar esta peça, surgiu de Laura Lopes, programadora de artes performativas do TBA.

“Houve vários momentos que me marcaram: a reação da senhora quando tenta dançar o tango e já não tem pernas para aquilo. Há outra parte quando aparece um flash do filme “Tempos Modernos” de Chaplin, ela tem uma reação engraçada que lhe despertam memórias antigas. Foram dois momentos que achei empolgantes”, concluí Maria Beja.

A peça esteve em cena de 05 a 07 de julho no TBA, na nossa freguesia.